A Reforma Tributária e seu Impacto no Setor de Transporte: Desafios e Oportunidades
O setor de transporte e logística brasileiro está prestes a enfrentar uma transformação significativa com a implementação da Reforma Tributária, que introduz mudanças estruturais na forma como as operações serão tributadas em todo o país. Entre as alterações mais relevantes, destaca-se a nova tributação no local de consumo, que substituirá o atual modelo baseado na origem dos produtos e serviços.
Esta mudança fundamental na geografia tributária impactará diretamente as estratégias logísticas das empresas. Com a tributação ocorrendo no destino final das mercadorias, as organizações precisarão repensar todo seu planejamento operacional, especialmente a localização de seus centros de distribuição e rotas de entrega.
“Com o novo local de tributação, as empresas vão precisar de novas estratégias de logística, deslocando a industrialização e seus centros de distribuição para locais mais próximos do consumo”, explica Lucas Ribeiro, tributarista e CEO da ROIT, empresa especializada em soluções para a Reforma Tributária.
Um dos efeitos mais evidentes será o fim gradual do chamado “turismo tributário” – prática comum em que empresas se estabelecem em estados com alíquotas mais vantajosas para obter economia fiscal. A partir de 2029, os benefícios e incentivos fiscais serão eliminados progressivamente, e até 2033 não haverá mais vantagens nesse tipo de estratégia.
Essa nova realidade exigirá um reposicionamento estratégico das bases operacionais de transportadoras e empresas de logística. Muitas companhias, especialmente em regiões como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, precisarão considerar a relocalização de seus centros de distribuição para atender mais eficientemente os mercados consumidores, reduzindo distâncias e otimizando entregas.
Para as transportadoras optantes pelo Simples Nacional, os desafios serão ainda maiores. Atualmente, essas empresas acumulam tributos em seus custos (o chamado “resíduo tributário”) ao adquirir combustíveis, caminhões, pedágios e serviços de manutenção, mas só repassam o crédito do valor efetivamente devido no Simples Nacional – uma fração do que será no regime regular.
“Na prática, teremos mais de 200 mil transportadoras ‘obrigadas’ a migrarem para o Regime Regular, operando como se estivessem no Lucro Real. Um grande ônus operacional para elas se adaptarem”, alerta Ribeiro. Essa migração forçada representará uma complexidade administrativa adicional para empresas de menor porte que estavam habituadas à simplificação oferecida pelo Simples Nacional.
Outro aspecto crítico da reforma que afetará diretamente o setor de transportes é a ausência de mecanismo para geração de crédito tributário sobre a folha de pagamento. Considerando que os custos com pessoal representam um dos principais insumos para as empresas de transporte, essa lacuna resultará em aumento da carga tributária, especialmente nas operações com consumidores finais, MEIs, empresas do Simples Nacional, condomínios e associações – entidades que não se aproveitam de créditos.
Para serviços prestados a consumidores finais e empresas do Simples, a tendência é de elevação da carga tributária efetiva. Este aumento pode comprometer a competitividade do setor, exigindo ajustes nos preços dos fretes e revisão das margens operacionais das transportadoras.
Diante desse cenário desafiador, a tecnologia emerge como aliada fundamental para a adaptação do setor. Sistemas de gestão de frota deixam de ser diferenciais competitivos para se tornarem ferramentas essenciais de sobrevivência no mercado.
“A incorporação de soluções tecnológicas para gestão deixa de ser uma opção – torna-se emergencial”, afirma Lucas Ribeiro. Plataformas que proporcionam controle automatizado e em tempo real das operações da frota e seu consumo ganham relevância estratégica neste novo contexto.
Em Curitiba, polo tecnológico que vem se destacando no desenvolvimento de soluções para logística, empresas como a Gestran estão na vanguarda da inovação para o setor. A companhia, que combina 25 anos de experiência com tecnologias avançadas, vem lançando soluções como o Open Fleet, plataforma de APIs conectadas a dispositivos relacionados à gestão de frotas, e o PneuFit, sistema especializado na gestão de pneus.
“Apenas o software de gestão de pneus pode diminuir em até 25% os gastos do frotista, aumentando a vida útil do pneu. Há ainda a gestão de combustível, que ajuda a cortar despesas com abastecimento. Os custos da frota são o principal insumo do setor de transporte. Reduzi-los é, então, fundamental”, destaca Paulo Raymundi, CEO da Gestran.
O controle automatizado permite identificar oportunidades de economia em diversos aspectos operacionais, desde o consumo de combustível até a manutenção preventiva, passando pela otimização de rotas e gestão eficiente da jornada de trabalho dos motoristas. Esses sistemas contribuem para compensar o aumento de custos decorrente das mudanças tributárias.
A implementação do IVA Dual, que substituirá cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), exigirá das empresas de transporte uma readequação completa de seus processos contábeis e fiscais. A transição começará em 2026 e estará concluída até 2033, seguindo um cronograma gradual que permitirá a adaptação progressiva do setor.
É fundamental que transportadoras e operadores logísticos iniciem o quanto antes o planejamento para essa transição, considerando não apenas os aspectos tributários, mas também os impactos em suas estratégias de posicionamento geográfico, estrutura de custos e relacionamento com clientes. As empresas que se anteciparem a essas mudanças estarão melhor posicionadas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgirão nesse novo cenário tributário.
Para o setor de transporte, a Reforma Tributária representa não apenas um desafio de adaptação fiscal, mas uma oportunidade de revisão completa de seus modelos de negócio e operação, com a tecnologia como principal aliada nessa jornada de transformação.
Referências:
https://intelipost.com.br/reforma-tributaria-entenda-os-impactos-no-setor-de-logistica/
https://www.embrasat.com.br/blog/reforma-tributaria-para-empresas-de-transporte-rodoviario/