A Revolução Silenciosa: Integrando IA e Humanização no RH em São Paulo
Na capital paulista, o mercado de Recursos Humanos vive uma transformação profunda. A adoção de Inteligência Artificial nos processos de RH cresceu significativamente, embora dados recentes revelam que 50% das empresas brasileiras ainda não utilizam IA de maneira estruturada. Entre as que adotam, 58% estão em fase inicial de implementação, 34% em nível intermediário e apenas 8% consideram sua adoção avançada.
Os profissionais de RH paulistanos enfrentam desafios específicos para integrar essas tecnologias. Conforme pesquisa realizada pela TOTVS em parceria com a h2r insights & trends, as principais barreiras incluem preocupações com segurança (36%), falta de profissionais qualificados (35%) e dificuldade em medir o retorno sobre investimento (32%). A resistência dos funcionários à mudança (24%) também figura entre os obstáculos relevantes.
As aplicações mais comuns de IA no RH incluem geração de conteúdo (33%), criação de elementos visuais (29%), cibersegurança (21%) e chatbots de atendimento (20%), com ferramentas conversacionais como ChatGPT, Gemini e Claude liderando as preferências (40%).
Contudo, especialistas alertam: a implementação não deve ser motivada por modismo. “Antes de implementar soluções de Inteligência Artificial, é essencial que as empresas avaliem se estão realmente prontas para isso. Ter sistemas de gestão atualizados é o primeiro passo”, afirma Cristiano Nobrega, CDAIO da TOTVS.
A filosofia Ubuntu como base para humanização
Em meio a esta revolução tecnológica, surge um contraponto fundamental: a filosofia africana Ubuntu, baseada na interdependência e no reconhecimento da humanidade do outro. Esta abordagem propõe uma ritualização do RH que valoriza histórias e trajetórias pessoais.
“Para o RH, é conhecer a história e entender que a meritocracia é um discurso falso. Ritos de direção, acolhimento, de comemorar junto são importantes. Mais do que resultados, o RH está lidando com pessoas, com histórias, com trajetórias”, destaca Benilda Brito, especialista em inclusão e diversidade.
Esta filosofia incentiva os departamentos de RH a incorporarem práticas como a “chegança”, um momento em que candidatos compartilham suas histórias de vida durante os processos seletivos. Tal abordagem humanizada responde a uma necessidade contemporânea: enquanto 24% da população mundial se declara solitária, 66% dos jovens das gerações Z e Alpha afirmam que passar tempo com amigos é seu principal objetivo na vida.
Diversidade e inclusão nos processos seletivos apoiados por IA
A integração entre tecnologia e humanização traz desafios particulares quando consideramos diversidade e inclusão. “Não existe neutralidade diante do racismo. Se você não se posiciona contra, você está se posicionando a favor”, alerta Benilda Brito sobre o uso de IA em processos seletivos.
O alerta é pertinente: a tecnologia carrega as intenções de quem a programa. “Muitos profissionais de RH utilizam a IA na seleção. Mas quem organiza? Quem planeja? E com qual interesse?”, questiona a especialista. Em São Paulo, onde a diversidade populacional é uma característica marcante, estas preocupações ganham relevância adicional.
A boa notícia é que existem soluções sendo desenvolvidas. Robson Campos, Diretor da Plataforma RH da TOTVS, destaca que suas ferramentas de recrutamento e seleção utilizam IA com filtros referentes somente às habilidades e necessidades presentes na oportunidade, para que não haja vieses que impactem negativamente na acessibilidade das vagas e no fit cultural.
O papel das emoções na experiência do colaborador
Compreender as emoções tornou-se um diferencial competitivo não apenas para marketing e vendas, mas também para o RH. Estudos indicam que 95% das decisões de compra são emocionais, e este conhecimento pode ser aplicado à experiência dos colaboradores.
Ana Coelho, Head de Soluções em Vendas e Relacionamento com o Cliente na Crescimentum, destaca um fenômeno relevante para o RH: “As pessoas estão mais conectadas, mas carentes de sentido”. Este contexto alimenta a chamada “economia da solidão”, que também afeta as relações de trabalho e a saúde mental dos profissionais.
Para empresas paulistanas, onde o ritmo acelerado muitas vezes dificulta conexões significativas, esta percepção é crucial. O RH precisa compreender que as experiências vividas pelos colaboradores geram gatilhos emocionais que os aproximam ou afastam da organização. “Se me gera sentimento de inclusão e pertencimento, eu consumo aquele produto” – este princípio aplica-se igualmente à “compra” da cultura organizacional pelos funcionários.
A transformação digital completa do RH
A transformação do departamento de RH vai muito além da simples adoção de ferramentas digitais. Envolve uma revisão completa de todos os processos, do employer branding à avaliação de desempenho.
“Toda a nossa atuação dentro do RH estratégico tem início neste cenário de apresentar quem é sua empresa, qual é sua cultura, quais são os valores e por que tudo isso é importante para o mercado e para as pessoas na organização”, explica Robson Campos.
A jornada continua nos processos de recrutamento e seleção, admissão digital, capacitação, avaliação de desempenho, feedback, PDI, carreira e sucessão. “Se você faz um recrutamento fluido e consistente, mas trabalha uma admissão na qual a pessoa tem que se deslocar para levar documentos, você gera uma fricção no processo”, alerta o especialista.
Em São Paulo, onde os deslocamentos são desafiadores, a digitalização completa destes processos ganha importância adicional. A implementação tecnológica coerente elimina fricções e melhora a experiência do colaborador desde o primeiro contato com a empresa.
O equilíbrio necessário para o RH do futuro
O futuro do RH em São Paulo e no Brasil parece apontar para um equilíbrio delicado entre tecnologia e humanização. A IA surge como ferramenta poderosa para otimizar processos, analisar dados e auxiliar decisões, mas não substitui a sensibilidade humana necessária para criar ambientes de trabalho inclusivos e emocionalmente saudáveis.
A liderança tem papel fundamental neste processo. “A liderança tem que se posicionar, estar atenta, dar feedback. Mas o RH é importante como porta de entrada para que nós, pessoas pretas, conquistemos o nosso espaço”, defende Benilda Brito.
As organizações que conseguirem navegar neste aparente paradoxo – usando tecnologia para humanizar – terão vantagem competitiva em um mercado onde a retenção de talentos é desafiadora. Em São Paulo, onde a concorrência por profissionais qualificados é intensa, esta abordagem equilibrada pode fazer a diferença.
O RH do futuro parece ser aquele que, armado com ferramentas tecnológicas sofisticadas, consegue enxergar e valorizar o que há de mais humano em cada colaborador: suas histórias, trajetórias, emoções e necessidades de conexão genuína.
Referências:
https://rhpravoce.com.br/canal/universo-totvs-rh-pessoas-historias
https://kpmg.com/br/pt/home/insights/2023/05/inteligencia-artificial-no-rh-o-que-voce-precisa-saber.html
https://www.gupy.io/blog/tendencias-de-rh
https://www.serasaexperian.com.br/limpa-nome-online/blog/o-que-e-ubuntu/