A Crise da Carne Bovina nos EUA: Entendendo o Cenário de Alta Recorde dos Preços em 2025

Os consumidores americanos estão enfrentando uma nova realidade nos supermercados. Após o alívio da chamada “crise do ovo”, quando os preços finalmente recuaram depois de um surto de gripe aviária, o mercado de proteínas enfrenta agora um novo desafio: a carne bovina atingiu patamares de preço jamais vistos, com um aumento de quase 9% desde janeiro de 2025, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

O cenário é preocupante. O índice de preços ao consumidor de junho mostrou que os preços do bife e da carne moída subiram 12,4% e 10,3%, respectivamente, em comparação ao ano anterior. Atualmente, a carne bovina está sendo comercializada a US$ 9,26 por quilo, um valor que pressiona significativamente o orçamento das famílias americanas.

“A carne bovina é muito mais complexa do que os ovos”, explica Michael Swanson, economista-chefe agrícola do Wells Fargo. “A indústria pecuária ainda é o ‘Velho Oeste’ do mercado de proteínas, enquanto o mercado de ovos é mais ‘América Corporativa’, com sua gestão de oferta e demanda.”

Impacto da Seca e Redução dos Rebanhos nas Regiões Produtoras

As regiões do Midwest e Great Plains, tradicionalmente os celeiros da produção de carne bovina americana, enfrentam uma crise sem precedentes. A prolongada seca que afeta essas áreas tem castigado as pastagens, forçando os produtores a utilizar ração comercial mais cara em substituição ao pastejo natural. Este cenário contribuiu para a redução histórica dos rebanhos, que atingiram seu menor nível em 74 anos, conforme relatório da Federação Americana de Agências Agrícolas (AFBF).

Em estados como Kansas, Nebraska e Oklahoma, as condições climáticas adversas têm sido particularmente severas. As pastagens, antes verdejantes, deram lugar a terrenos áridos que não conseguem mais sustentar os grandes rebanhos característicos dessas regiões. Donnie King, CEO da Tyson Foods, uma das maiores processadoras de carne do país, descreveu a situação atual como “as condições de mercado mais desafiadoras que já vimos” para o setor de carne bovina.

A realidade é que muitos pecuaristas estão desistindo da atividade. A combinação de margens reduzidas e custos operacionais crescentes tem tornado a pecuária menos atrativa economicamente, contribuindo para a contração contínua do setor produtivo.

Análise dos Custos de Ração e Seus Efeitos nas Margens dos Pecuaristas

O impacto da seca nas margens dos pecuaristas tem sido devastador. “Mesmo com esses preços recordes, as margens para pecuaristas e criadores de gado estão muito reduzidas devido aos custos de fornecimento continuamente elevados”, escreveu o economista da AFBF, Bernt Nelson, em um relatório de maio.

No Missouri e Illinois, estados com forte tradição pecuária, os produtores relatam um aumento de até 35% nos custos com alimentação animal. O milho e a soja, componentes essenciais da ração, também tiveram seus preços pressionados por questões climáticas e pela alta demanda internacional, criando um efeito cascata que atinge diretamente o bolso dos produtores.

A necessidade de suplementação alimentar durante períodos mais longos do ano, devido à degradação das pastagens, elevou significativamente os custos operacionais. Produtores que anteriormente dependiam majoritariamente de pastagens naturais para alimentar seu gado agora precisam investir pesadamente em rações processadas durante praticamente todo o ano.

Tendências de Importação e Exportação de Carne Bovina

O cenário de oferta reduzida e preços elevados tem impulsionado mudanças significativas no comércio internacional de carne bovina. Segundo Michael Swanson, a carne bovina importada de países como Argentina, Austrália e Brasil agora representa cerca de 8% do consumo total nos EUA, um percentual que era bem menor até recentemente.

“É uma grande mudança que vimos este ano e que não estava nos planos de ninguém. Há apenas alguns anos, éramos neutros em termos de emissões líquidas, exportando parte e importando parte”, explicou Swanson, acrescentando que “continuaremos a ver mais consumo de carne bovina nos Estados Unidos, abastecido pelo mercado mundial, e eles estão felizes em fazer isso, já que somos a carne bovina com o preço mais alto do mundo”.

Ao mesmo tempo, as exportações americanas desaceleraram — caindo 22% em maio em comparação com o ano anterior, segundo dados da AFBF. Esta mudança no padrão comercial reflete a nova dinâmica de preços e disponibilidade no mercado global.

Em estados com forte tradição exportadora como Texas e Nebraska, essa redução nas exportações representa um desafio adicional para produtores que haviam adaptado suas operações para atender mercados externos premium.

Caso de Estudo: A Estratégia do Walmart em Olathe, Kansas

Em resposta a esse cenário desafiador, grandes varejistas estão buscando soluções inovadoras. Um caso notável é o do Walmart, que inaugurou em junho sua primeira unidade de produção própria de carne bovina em Olathe, Kansas.

A instalação permite que o Walmart trabalhe diretamente com seus fornecedores, eliminando intermediários e potencialmente reduzindo custos. “Esta é a primeira instalação pronta para o atendimento totalmente de propriedade e operada pelo Walmart, e esse marco garante que podemos trazer mais consistência, mais transparência e mais valor aos nossos clientes”, afirmou John Laney, vice-presidente executivo de alimentos do Walmart.

A localização em Kansas não foi escolhida por acaso. O estado é um dos principais produtores de gado do país e possui uma infraestrutura logística bem desenvolvida. A proximidade com fornecedores reduz custos de transporte e permite maior controle sobre a qualidade do produto. Esta estratégia vertical pode se tornar um modelo para outros varejistas que buscam proteger suas margens e garantir fornecimento em tempos de escassez.

Comportamento do Consumidor Americano por Região

Apesar dos preços recordes, a demanda por carne bovina nos EUA continua surpreendentemente forte, embora com variações regionais significativas. No nordeste e na costa oeste, onde a renda média é mais alta, a resistência ao aumento de preços tem sido menor, com consumidores optando por cortes premium mesmo com os preços elevados.

Já no sul e no meio-oeste, regiões tradicionalmente grandes consumidoras de carne bovina, começam a surgir sinais de mudança nos hábitos de consumo. Em estados como Texas, Oklahoma e Missouri, pesquisas indicam que os consumidores estão reduzindo a frequência de compra de carne bovina ou optando por cortes menos nobres.

Esta diferença regional no comportamento do consumidor reflete não apenas variações de poder aquisitivo, mas também diferenças culturais e de hábitos alimentares que podem influenciar as estratégias dos varejistas e produtores em cada mercado local.

Estratégias de Varejo para Mitigar os Preços Elevados

Os varejistas em todo o país estão implementando estratégias diversificadas para enfrentar os preços elevados da carne bovina. Além da abordagem vertical do Walmart, outras redes de supermercados estão adaptando suas operações de maneiras criativas.

Em redes como Kroger e Albertsons, localizadas principalmente no meio-oeste e oeste americano, há uma tendência de expansão das linhas de produtos substitutos à base de plantas. Essas redes também têm investido em programas de fidelidade que oferecem descontos específicos para carnes, tentando manter a frequência de compra de seus clientes.

No sudeste, redes como Publix estão apostando em promoções cruzadas, oferecendo descontos em carne bovina quando o cliente adquire outros itens com margens mais altas. Já no nordeste, redes premium como Whole Foods mantêm seu foco em carne de origem local e sustentável, apostando que seus clientes valorizam esses atributos mesmo com preços mais elevados.

A adaptação regional dessas estratégias reflete o profundo conhecimento que os varejistas têm sobre as preferências e comportamentos específicos de seus clientes em cada área geográfica do país.

Perspectivas de Queda de Preços

A grande questão que produtores, varejistas e consumidores se fazem é: quando os preços da carne bovina podem voltar a patamares mais acessíveis? Segundo Nelson, da AFBF, isso provavelmente dependerá do comportamento do consumidor.

“Historicamente, a demanda do consumidor americano por carne tem crescido com a melhora da situação financeira das famílias e, em seguida, cai com a queda da renda”, escreveu Nelson. “Se a confiança do consumidor cair junto com a incerteza financeira das famílias, a demanda por carne bovina poderá estar em risco, especialmente diante dos preços recordes no varejo.”

Em estados como Califórnia, Nova York e Massachusetts, onde indicadores econômicos locais mostram sinais de desaceleração, já se observa uma redução gradual no consumo de cortes premium de carne bovina. Esta tendência pode se espalhar para outras regiões caso a economia nacional continue enfrentando pressões inflacionárias.

Michael Swanson, do Wells Fargo, vê sinais de que o mercado pode estar se aproximando de um ponto de inflexão: “Eu digo que estamos nos aproximando do pico deste ciclo atual. Essa é a verdadeira preocupação deste setor — ninguém quer ser pego com a responsabilidade de comprar gado mais caro quando os preços começarem a cair, o que inevitavelmente acontecerá.”

Estratégias de SEO Local para Negócios de Carne Bovina

Para os negócios que atuam no setor de carne bovina, desde criadores até açougues e restaurantes especializados, a otimização para busca local (SEO GEO) tornou-se essencial em um mercado tão desafiador. A adaptação das estratégias digitais às realidades regionais pode ser um diferencial competitivo importante.

Em estados do meio-oeste como Kansas, Nebraska e Iowa, termos de busca relacionados a “carne bovina local” e “carne de fazendas familiares” têm mostrado crescimento significativo. Negócios nestas regiões podem se beneficiar ao destacar suas raízes locais e conexões com a comunidade agrícola.

Já em estados costeiros como Califórnia e Nova York, termos relacionados à sustentabilidade, bem-estar animal e opções premium têm maior relevância. Negócios nestas áreas podem obter melhores resultados ao enfatizar práticas sustentáveis e certificações de qualidade.

No sul, particularmente em estados como Texas e Louisiana, termos relacionados a churrascos, defumação e cortes específicos para essas técnicas têm grande volume de busca. Negócios locais podem capitalizar esse interesse cultural específico em suas estratégias de marketing digital.

A implementação de páginas otimizadas para cada localidade, com menções a marcos geográficos, eventos locais e termos específicos da região, pode melhorar significativamente a visibilidade online de negócios do setor de carne bovina em um momento em que os consumidores estão pesquisando mais antes de decidir onde e o que comprar.

O cenário atual da carne bovina nos Estados Unidos reflete uma complexa interação de fatores climáticos, econômicos e comportamentais. Enquanto os preços recordes pressionam consumidores e varejistas, também criam oportunidades para inovação e reposicionamento no mercado. A adaptação às realidades regionais e a compreensão das dinâmicas locais serão fatores determinantes para o sucesso dos negócios neste setor nos próximos anos.

Referências:

  1. https://www.fb.org/market-intel/beef-prices-remain-high-as-cattle-supply-struggles
  2. https://www.foxbusiness.com/economy/why-ground-beef-expensive-experts-blame-high-cattle-prices