O “Morango do Amor” que conquistou o Brasil: como a economia dos criadores está transformando negócios locais
O “Morango do Amor”, doce feito com morango coberto por brigadeiro branco e calda de caramelo, transformou-se em muito mais que uma simples sobremesa no cenário gastronômico brasileiro. Nascido de uma receita familiar, este doce conquistou o paladar dos brasileiros de norte a sul, com filas se formando em diversas confeitarias do país. A velocidade com que essa criação se espalhou demonstra como os pequenos negócios podem alcançar visibilidade nacional em tempo recorde quando entendem a nova dinâmica da economia digital.
Originalmente criado por uma família de empreendedores, o doce ganhou projeção através do poder viral das plataformas digitais, especialmente o TikTok. Esse fenômeno não ficou restrito às redes sociais e rapidamente alcançou as vitrines de confeitarias locais, pequenas padarias de bairro e até mesmo redes tradicionais como a Cepam, considerada a maior padaria da América Latina.
A adoção do “Morango do Amor” por estabelecimentos de diferentes portes demonstra a capacidade das tendências virais de transpor as barreiras digitais e impactar o mercado físico. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras capitais, confeitarias relataram aumento significativo nas vendas após incluírem o item em seus cardápios, mostrando como a gastronomia brasileira absorve rapidamente tendências das redes sociais.
No universo digital, os números são ainda mais impressionantes. Apenas na última semana de julho de 2025, entre os dias 17 e 23, a Hotmart registrou um aumento de 343% nas vendas de cursos relacionados à preparação do doce. Nesse curto período, os materiais didáticos sobre o “Morango do Amor” movimentaram aproximadamente R$ 100 mil, consolidando o fenômeno como uma oportunidade de negócio digital para confeiteiros e educadores culinários de todo o Brasil.
No TikTok, epicentro da viralização, a hashtag #morangodoamor já ultrapassa 168 mil postagens, enquanto no Instagram são mais de 250 mil publicações. Esse engajamento massivo mostra como o interesse pelo doce transcende regiões e atinge consumidores em todo o território nacional.
A influência dos criadores de conteúdo nas decisões de compra dos brasileiros tem se mostrado cada vez mais relevante. De acordo com uma pesquisa realizada pelo InstitutoZ em parceria com a YOUPIX, 80% dos jovens da Geração Z já visitaram estabelecimentos ou compraram produtos alimentícios a partir da recomendação de criadores de conteúdo. Este comportamento é particularmente forte em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde a concentração de jovens conectados é maior e a oferta gastronômica mais diversificada.
“O que está acontecendo não é apenas uma onda, é uma nova lógica de mercado. Quando um vídeo viraliza, ele carrega junto hábitos, valores e escolhas de consumo, é isso que muda o jogo”, explica Luiz Menezes, fundador da Trope. Para ele, os criadores de conteúdo funcionam hoje como tradutores culturais para novas gerações, e sua atuação vai muito além de promover marcas ou tendências – eles moldam comportamentos de consumo em diferentes regiões do país.
Esse fenômeno tem sido especialmente benéfico para micro e nano influenciadores com presença regional forte. Em cidades como Recife, Salvador e Porto Alegre, confeiteiros locais com poucos milhares de seguidores conseguiram impulsionar seus negócios ao criar conteúdo autêntico sobre o “Morango do Amor”, adaptando a receita a ingredientes e sabores regionais.
Um exemplo bem-sucedido é o caso da confeitaria “Doces da Terra” em Belém do Pará, que criou uma versão do doce com toque amazônico, incluindo elementos regionais na cobertura. A iniciativa gerou filas de espera de até duas horas nos finais de semana e aumentou o faturamento da pequena empresa em 70% em apenas um mês.
Para empreendedores que desejam aproveitar tendências virais como esta, o desafio está em transformar a atenção momentânea em um negócio sustentável. “O desafio para quem empreende, ainda é pequeno, e viraliza, é transformar influência em recorrência de vendas, garantindo saudabilidade para o próprio negócio”, afirma Luiz Menezes.
Grandes redes de padarias já começam a estudar como incorporar permanentemente o item em seus cardápios. A Cepam, por exemplo, relata que a venda do “Morango do Amor” já representa 15% do faturamento de sua confeitaria, mostrando como mesmo negócios estabelecidos podem se beneficiar das tendências originadas nas redes sociais.
Para micro e pequenos empreendedores locais, especialistas recomendam algumas táticas para aproveitar o momento:
- Otimize sua presença digital para buscas locais, usando termos como “Morango do Amor em [sua cidade]”
- Colabore com influenciadores regionais que tenham conexão autêntica com seu público-alvo
- Adapte a receita com toques regionais que valorizem ingredientes e sabores locais
- Crie experiências exclusivas para gerar conteúdo compartilhável por seus clientes
- Desenvolva produtos complementares para estender o ciclo de vida da tendência
Projeções para 2025 indicam que a economia criativa continuará crescendo no Brasil, com aumento previsto de 30% no faturamento de negócios impulsionados por criadores de conteúdo. As regiões Sudeste e Nordeste devem liderar esse crescimento, com São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador como principais polos.
Para empreendedores que desejam aproveitar o potencial da creator economy, a recomendação é clara: esteja atento às tendências nas redes sociais, mas prepare-se para ir além da viralização momentânea. Estabelecer uma presença digital sólida, cultivar relacionamentos com influenciadores locais e criar experiências autênticas para seus clientes são estratégias fundamentais para transformar o fenômeno viral em um negócio sustentável.
O “Morango do Amor” serve como exemplo perfeito de como a economia criativa está remodelando o mercado brasileiro, criando novas oportunidades para empreendedores que conseguem navegar habilmente entre o mundo digital e o físico, especialmente em escala local.
Referências: