O Senior Experience 2024 reuniu líderes da América Latina e China para discutir a transformação digital e a importância da empatia na gestão de pessoas. Através de insights de especialistas como Luciano Condé e Marcos Piangers, o evento abordou como a tecnologia deve ser usada para entender e conectar-se com os indivíduos. Com foco em inovação e cultura organizacional, o encontro destacou a necessidade urgente de adaptação para que empresas permaneçam relevantes em um mundo em constante mudança.

O Senior Experience, primeiro evento nacional da Senior Sistemas realizado em outubro de 2024, reuniu mais de 2 mil lideranças empresariais da América Latina e China em São Paulo. Com 70 palestrantes e 40 horas de conteúdo exclusivo sobre transformação digital e gestão de alta performance, o encontro evidenciou questões fundamentais que empresas brasileiras enfrentam no contexto atual de automação e mudanças aceleradas.

A inteligência artificial no ambiente de recursos humanos representa hoje muito mais do que uma ferramenta de otimização de processos. Segundo Luciano Condé, Diretor Sênior de Arquitetura da Oracle, o verdadeiro desafio não está apenas em construir sistemas capazes de recomendar produtos ou prever comportamentos, mas em desenvolver soluções que compreendam o contexto, a emoção e o momento das pessoas. A tecnologia está se tornando mais inteligente, mas também mais humana através do conceito de empatia digital.

Esta empatia digital representa a compreensão humana mediada pela tecnologia, permitindo entender o outro com a tecnologia como intermediário. Estudos citados por Condé revelam que pessoas aceitam melhor más notícias vindas de inteligências artificiais por considerá-las mais imparciais, enquanto para boas notícias preferem humanos. Esse comportamento demonstra como nossa relação com a automação está evoluindo e requer adaptação constante das estratégias de gestão de pessoas.

As reflexões de Marcos Piangers durante o evento trouxeram uma perspectiva provocadora sobre o papel humano em um mundo cada vez mais tecnológico. Segundo o palestrante, vivemos uma era de oportunidades únicas, mas falta coragem para aproveitá-las adequadamente. “Estamos treinados a ser robôs, mas os robôs são melhores do que nós nisso”, afirmou, destacando que o verdadeiro diferencial humano não está na eficiência, mas naquilo que as máquinas não possuem: coragem, conexão e propósito.

Piangers criticou como muitos profissionais se tornaram reféns da queixa e da inércia, executando tarefas repetitivas sem questionar seu valor. Ele observou que preenchemos relatórios que ninguém lê e participamos de reuniões que não levam a lugar nenhum, evidenciando a necessidade de coragem para colocar o dedo nas feridas corporativas. A crítica se estende ao ambiente educacional e corporativo, onde pessoas são incentivadas a fazer apenas o necessário, perdendo o entusiasmo natural pela criação e descoberta.

A empatia digital, conforme apresentada por Condé, surge como resposta a essa necessidade de humanização da tecnologia. Mais do que personalizar experiências, é preciso entender o indivíduo e se adaptar à sua jornada específica. O conceito vai além de ter um sistema de recomendação frio, exigindo um entendimento real do contexto em que cada pessoa se encontra.

O executivo da Oracle alertou sobre nossa crescente dependência tecnológica, citando como a sociedade tem antropomorfizado a tecnologia, atribuindo-lhe características humanas e uma presença quase onisciente. Essa observação ressalta a importância de manter relações humanas autênticas, mesmo quando mediadas por tecnologia, usando-a como ferramenta para amplificar nossa capacidade de compreensão e conexão.

O conceito de Total Rewards apresentado durante o painel com especialistas da área demonstra como os benefícios corporativos evoluíram de complementos para elementos estratégicos centrais. Fernanda Ferraz, Gian Farinelli, Glaucia Saffa, Kahoê Guedes e Juliana Lourenço destacaram que benefícios não são custos, mas parte fundamental da estratégia de negócios das organizações.

A personalização adequada dos benefícios requer ir além do superficial, exigindo hiperpersonalização da jornada do colaborador. O mesmo profissional muda seus desejos e objetivos ao longo do tempo, tornando necessária uma escuta constante por parte das empresas. Essa abordagem reconhece que o ser humano é diverso, com interesses e necessidades diferentes mesmo nas questões mais básicas.

O engajamento surge como resultado direto dessa valorização personalizada. Quando empregadores entendem que a relação envolve cuidado genuíno, colaboradores respondem com maior engajamento e produtividade. Um profissional engajado em uma cultura que oferece benefícios que fazem sentido para seu perfil específico torna-se mais produtivo e leal à organização.

A transformação cultural nas organizações, segundo Junior Borneli, fundador da StartSe, não pode mais ser adiada. Empresas continuam operando da mesma forma há muito tempo, mas em um mundo que já não é o mesmo. A mudança necessária não é apenas tecnológica, mas sobretudo de cultura e modelo mental, exigindo abertura para o novo e capacidade de adaptação rápida.

Borneli destacou que o ciclo de transformação atual é mais curto, exigindo das empresas a capacidade de equilibrar crescimento com disrupção. Não basta entregar a meta do ano; é necessário construir um futuro forte sem comprometer o presente. Essa visão requer coragem para encarar fatos brutais e questionar se possuímos as ferramentas corretas para permanecer relevantes.

O conceito de ambidestria organizacional emerge como a técnica de gestão mais poderosa do nosso tempo. Trata-se da capacidade de equilibrar eficiência operacional com inovação disruptiva, mantendo a empresa competitiva tanto no curto quanto no longo prazo. Organizações ambidestras conseguem otimizar processos existentes enquanto desenvolvem novas capacidades para o futuro.

Essa ambidestria organizacional requer liderança capaz de gerenciar paradoxos, investindo simultaneamente em melhorias incrementais e inovações revolucionárias. O desafio está em criar estruturas organizacionais que suportem essas duas demandas aparentemente contraditórias, permitindo que diferentes áreas da empresa operem com mentalidades distintas conforme suas necessidades específicas.

A era atual apresenta múltiplos futuros possíveis, tornando arriscado apostar em apenas um caminho. Borneli alertou que há 30 anos bastava comprar uma fábrica, abrir uma loja e garantir estabilidade por décadas. Hoje, o cenário muda rapidamente, exigindo flexibilidade estratégica e capacidade de adaptação constante das organizações que desejam permanecer relevantes.

A inteligência artificial, nesse contexto, deixou de ser uma urgência e tornou-se uma pendência para muitas empresas. Segundo Borneli, quem não implementou soluções de IA está atrasado, pois ela representa sinônimo de lucro, margem e rentabilidade no ambiente empresarial atual. A tecnologia redefine não apenas processos, mas expectativas de clientes e padrões de experiência.

O ambiente corporativo precisa se adaptar a uma geração de 2 bilhões de pessoas nascidas depois do iPhone, que não concebe o mundo sem tecnologia móvel. Essas pessoas não realizarão atividades básicas como pedir comida, marcar consultas ou fazer compras fora do ambiente digital. Empresas que não reconhecem essa mudança fundamental correm o risco de se tornarem irrelevantes rapidamente.

A adaptação e inovação no ambiente corporativo atual transcendem questões tecnológicas, abrangendo transformações culturais profundas. Organizações precisam repensar seus modelos mentais, estruturas de benefícios, processos de gestão de pessoas e estratégias de longo prazo. O futuro pertencerá àqueles que trabalham com paixão e conseguem equilibrar eficiência operacional com capacidade de inovação constante.

A combinação de inteligência artificial com empatia digital, total rewards personalizado e ambidestria organizacional representa o caminho para empresas que desejam prosperar no ambiente atual. Mais importante que dominar tecnologias específicas é desenvolver a capacidade de adaptação contínua e manter o elemento humano como diferencial competitivo