O carewashing é um fenômeno crescente no Brasil, onde empresas simulam cuidado por seus colaboradores sem implementar mudanças reais nas condições de trabalho. Este post explora os riscos jurídicos associados à prática, destacando como a desconexão entre discurso e realidade pode aumentar o passivo trabalhista. Descubra estratégias essenciais para evitar essa armadilha e fortalecer a credibilidade da sua organização no cenário ESG.

O termo carewashing tem ganhado destaque no cenário empresarial brasileiro como uma prática que simula cuidado com empregados e comunidades sem implementar medidas substantivas de proteção ou melhoria. Surgido na intersecção entre greenwashing e marketing de responsabilidade social, o carewashing representa um risco significativo para as organizações, especialmente no que se refere ao passivo trabalhista.

Esta prática consiste na instrumentalização da linguagem do “cuidado” por parte das empresas, que promovem campanhas e mensagens sugerindo atenção ao bem-estar dos trabalhadores sem promover mudanças estruturais efetivas nas condições laborais. Trata-se de uma comunicação corporativa que visa obter vantagens reputacionais e comerciais sem correspondência real entre discurso e prática.

Os Riscos Jurídicos do Carewashing

As empresas que adotam práticas de carewashing enfrentam diversos riscos jurídicos que podem elevar significativamente seu passivo trabalhista. A desconexão entre promessas públicas de cuidado e a realidade das condições de trabalho pode resultar em ações trabalhistas individuais e coletivas.

Quando benefícios informais, políticas internas ou programas de cuidado divulgados não se traduzem em direitos efetivos, os empregados podem buscar reparação judicial. Além disso, campanhas que exibem a imagem de “empresa que cuida” enquanto mantêm condições de trabalho precárias podem gerar demandas por danos morais individuais e coletivos.

Os órgãos fiscalizadores de segurança e saúde no trabalho também podem identificar inconsistências entre relatórios corporativos e condições efetivas, resultando em multas e encargos que integram o passivo trabalhista da organização.

O Pilar Social do ESG e suas Consequências

O movimento ESG (Environmental, Social and Governance) trouxe maior visibilidade para três dimensões fundamentais da atuação corporativa. O pilar social, representado pela letra “S”, abrange temas cruciais para o direito do trabalho, incluindo condições de trabalho, saúde e segurança ocupacional, diversidade e respeito aos direitos fundamentais dos trabalhadores.

Quando as empresas utilizam a retórica do cuidado sem promover mudanças estruturais correspondentes, configura-se o carewashing. Esta discrepância é particularmente prejudicial porque compromete a credibilidade dos relatórios ESG e das informações prestadas a investidores e reguladores.

A falta de autenticidade nas práticas de responsabilidade social pode ensejar responsabilização administrativa, fiscal e trabalhista, impactando não apenas a reputação da empresa, mas também sua situação jurídica e financeira.

Identificando Sinais de Carewashing

Diversos indicadores podem sinalizar a presença de carewashing em uma organização. Campanhas internas ou externas sem indicadores concretos de melhoria em saúde ou clima organizacional representam um primeiro sinal de alerta.

A inexistência de métricas robustas sobre absenteísmo, acidentes, adoecimento mental e rotatividade, bem como a ausência de auditoria externa sobre políticas de saúde laboral, também caracterizam práticas suspeitas.

Outro aspecto preocupante é a falta de alinhamento entre o discurso corporativo e as cláusulas de acordos coletivos ou políticas internas escritas. Discrepâncias entre relatórios ESG e a realidade organizacional, combinadas com denúncias de trabalhadores em plataformas públicas, completam o quadro de possível carewashing.

Consequências Práticas do Carewashing

As consequências do carewashing se manifestam de diversas formas no ambiente corporativo. Ações individuais por descumprimento de condições prometidas podem se multiplicar quando benefícios divulgados não se concretizam na prática.

Demandas por danos morais individuais e coletivos tornam-se mais prováveis quando existe flagrante contradição entre a imagem projetada pela empresa e as condições reais de trabalho oferecidas aos empregados.

As fiscalizações e autuações por órgãos competentes podem resultar em multas significativas e encargos adicionais. Além disso, alegações inverídicas em relatórios de sustentabilidade podem levar a litígios acionários e pedidos de reparação por investidores, ampliando o passivo da empresa.

Estratégias Preventivas Contra o Carewashing

Para evitar os riscos associados ao carewashing, as empresas devem adotar estratégias concretas e mensuráveis. A realização de auditorias internas independentes sobre condições de trabalho representa um primeiro passo fundamental.

Estas auditorias devem medir indicadores-chave como taxa de acidentes, afastamentos, absenteísmo e índice de rotatividade, publicando relatórios de resultados com metodologia clara e transparente.

A formalização de políticas de cuidado em contratos, acordos coletivos ou regulamentos internos é essencial. Programas de saúde mental, flexibilidade e assistência médica devem contar com critérios objetivos de acesso e permanência, evitando ambiguidades que possam caracterizar carewashing.

O treinamento de gestores para aplicar homogeneamente estas políticas, integrando as áreas de Compliance, RH e Saúde e Segurança do Trabalho, completa o conjunto de medidas preventivas necessárias.

A transparência e autenticidade nas práticas empresariais representam mais que uma obrigação ética – constituem estratégias fundamentais para redução de riscos jurídicos e fortalecimento reputacional. Empresas que desejam efetivamente reduzir sua exposição ao passivo trabalhista devem transformar programas de cuidado em políticas estruturadas, mensuráveis e auditáveis.

A adoção de métricas verificáveis e de governança que sustentem adequadamente o pilar social do ESG não apenas reduz riscos judiciais, como também fortalece a confiança interna e externa. Este investimento em autenticidade resulta na diminuição de custos com litígios e passivos no médio e longo prazo, demonstrando que práticas genuínas de cuidado representam tanto um imperativo ético quanto uma estratégia empresarial inteligente.

Referências

https://mundorh.com.br/carewashing-o-risco-oculto-ao-passivo-trabalhista-das-empresas/