O Brasil no Xadrez Global: Como Aproveitar a Guerra Comercial EUA-China
Em meio à intensificação das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, o Brasil encontra-se em uma posição singular, com oportunidades estratégicas emergindo em diversos setores. Para empresários e gestores paulistas e de todo o país, compreender essa dinâmica global pode ser decisivo para expandir negócios internacionais nos próximos anos.
A recente contração econômica americana, a primeira desde 2022, somada à desaceleração da atividade industrial chinesa, redesenha o mapa do comércio internacional. O chamado “tarifaço” de Trump, com sobretaxas significativas para produtos chineses, tem provocado ondas de impacto que chegam às costas brasileiras não apenas como ameaças, mas também como oportunidades concretas para exportadores atentos.
Um exemplo claro desse reposicionamento internacional está no setor agrícola. Recentemente, a China importou volumes recordes de soja brasileira, sinalizando uma estratégia de independência em relação à produção americana. Este movimento não é isolado, mas representa uma tendência mais ampla que pode beneficiar outros setores produtivos brasileiros, especialmente em São Paulo e nas regiões produtoras do Centro-Oeste.
“O cenário complexo de disputas comerciais globais, embora repleto de desafios, cria novas aberturas para exportadores brasileiros posicionados estrategicamente”, afirma Lucas Ferraz, especialista da FGV. Para empresas paulistanas e de outros polos econômicos do país que já mantêm relações comerciais com a China, é momento de intensificar diálogos e explorar ampliações de contratos existentes.
Os setores de mineração, proteínas animais e produtos industrializados com valor agregado podem experimentar demanda crescente, na medida em que tanto China quanto Estados Unidos buscam parceiros comerciais alternativos. Para o empresário brasileiro, isso significa revisar cuidadosamente suas estratégias de internacionalização, considerando não apenas o aumento de volume, mas também agregação de valor aos produtos exportados.
A implementação da reforma tributária brasileira adiciona uma camada crucial a este cenário. As mudanças na tributação, como o fim da guerra fiscal entre estados e a eliminação da substituição tributária, tendem a aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. Para exportadores de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e outros estados com forte vocação exportadora, a isenção tributária para produtos destinados ao exterior será mantida e potencialmente fortalecida, conforme apontam documentos do Ministério da Fazenda.
“É fundamental que empresas revisem seus contratos internacionais e adaptem suas operações às novas regras tributárias para maximizar oportunidades comerciais”, ressalta Luiz Carlos Szymonovicz, especialista da FUNCEX e da OAB-SP. Esta revisão contratual não é apenas uma medida preventiva, mas estratégica para posicionar produtos brasileiros em mercados afetados pela disputa sino-americana.
As cadeias globais de valor passam por transformações profundas, com empresas buscando diversificação de fornecedores para reduzir riscos geopolíticos. O Brasil, especialmente empresas de regiões como o ABC paulista e polos industriais de Campinas e Ribeirão Preto, pode se posicionar como fornecedor confiável e estável em um mundo de incertezas comerciais. A proximidade com o mercado latino-americano também representa uma vantagem competitiva para exportadores nacionais que podem estabelecer rotas logísticas mais eficientes.
A implementação gradual do novo sistema tributário até 2033, com a nova tributação sobre consumo já em 2026, oferece um horizonte de planejamento para empresas estruturarem suas operações internacionais. O chamado “split payment” e a mudança da tributação da origem para o destino favorecem uma inserção mais competitiva de produtos brasileiros no exterior.
“O empresariado precisa estar preparado para aproveitar novos contextos que surgem em meio à disputa global”, enfatiza Rita Campagnoli da Associação Comercial de São Paulo. Esta preparação envolve não apenas aspectos tributários e contratuais, mas também investimentos em capacitação para compreender mercados específicos, requisitos técnicos e preferências dos consumidores internacionais.
Para pequenas e médias empresas de São Paulo e outros centros econômicos, o momento também é propício para iniciar ou ampliar suas operações internacionais. As agências de promoção de exportações, como a ApexBrasil, oferecem programas específicos para a internacionalização, com foco em mercados prioritários afetados pela guerra comercial.
Especialistas em comércio internacional apontam que, em tempos de protecionismo crescente, o Brasil tem a oportunidade de se firmar como um parceiro comercial estável e confiável. A diversificação da pauta exportadora, com maior participação de produtos manufaturados e serviços, pode reduzir a vulnerabilidade econômica do país às oscilações de preços das commodities.
A reforma tributária, ao simplificar processos e reduzir o custo Brasil, somada ao redirecionamento dos fluxos comerciais globais, cria uma janela de oportunidade histórica para exportadores brasileiros. Empresas de São Paulo e de todo o país que souberem interpretar esse momento e ajustar suas estratégias poderão não apenas sobreviver, mas prosperar em meio às turbulências do comércio global.
O futuro do comércio exterior brasileiro em tempos de crescente protecionismo dependerá da capacidade de adaptação, planejamento estratégico e entendimento das complexas dinâmicas globais. Para os exportadores paulistas e brasileiros, o desafio atual não é apenas resistir à tempestade global, mas navegar habilmente para aproveitar os novos ventos que sopram no horizonte comercial internacional.
Referências:
https://www.gov.br/fazenda/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/reforma-tributaria
https://www.contadores.cnt.br/noticias/empresariais/2025/05/02/desafios-e-oportunidades-para-o-comex-brasileiro-em-tempos-de-trumpismo.html