O mercado de trabalho brasileiro apresentou um panorama de desafios e oportunidades no primeiro trimestre de 2025. Segundo dados da PNAD Contínua do IBGE, a taxa de desocupação atingiu 7,0%, um aumento de 0,8 ponto percentual em relação ao trimestre anterior. Apesar desse crescimento, é importante contextualizar que esse aumento foi menor que a média histórica para primeiros trimestres (1,1 p.p.), revelando uma resiliência do mercado mesmo diante de fatores sazonais.
A análise regional mostra um país de contrastes. Enquanto Pernambuco (11,6%), Bahia (10,9%) e Piauí (10,2%) registraram as maiores taxas de desocupação, Santa Catarina mantém sua posição de destaque com apenas 3,0% de desemprego, seguida por Rondônia (3,1%) e Mato Grosso (3,5%). Esse cenário reflete as profundas diferenças estruturais entre as economias regionais, com o Sul e Centro-Oeste apresentando mercados de trabalho mais robustos que o Nordeste.
As desigualdades no mercado de trabalho brasileiro vão além das questões geográficas. As mulheres continuam enfrentando maior dificuldade de inserção, com taxa de desocupação de 8,7%, significativamente superior à dos homens (5,7%). A desigualdade racial também permanece evidente: enquanto a taxa entre pessoas brancas ficou em 5,6%, abaixo da média nacional, entre pretos (8,4%) e pardos (8,0%) o índice superou a média do país. Esses dados revelam que, apesar dos avanços, ainda há um longo caminho para alcançarmos um mercado de trabalho verdadeiramente equitativo.
Um sinal positivo que merece destaque é a redução histórica no tempo de procura por trabalho. Mesmo com o aumento da desocupação, o período médio que um trabalhador brasileiro leva para encontrar uma nova colocação diminuiu, atingindo o menor patamar dos últimos cinco anos. Esse indicador sugere que, embora mais pessoas estejam procurando emprego, o mercado está conseguindo absorvê-las em um ritmo mais acelerado que no passado, demonstrando sinais de aquecimento.
A informalidade continua sendo um desafio estrutural, com taxa nacional de 38,0%. As disparidades regionais nesse quesito são alarmantes: Maranhão (58,4%), Pará (57,5%) e Piauí (54,6%) lideram o ranking de informalidade, enquanto Santa Catarina (25,3%), Distrito Federal (28,2%) e São Paulo (29,3%) apresentam os menores índices. Essa discrepância reflete tanto a composição econômica dessas regiões quanto a efetividade das políticas públicas locais de formalização de negócios e incentivo ao empreendedorismo regulamentado.
Quando analisamos a carteira assinada por estado, Santa Catarina novamente se destaca positivamente, com a maior proporção de trabalhadores formais no país. A cultura empreendedora catarinense, aliada a um ecossistema de negócios diversificado entre indústria, tecnologia e serviços, criou um ambiente propício para relações de trabalho mais estruturadas. No outro extremo, o Maranhão enfrenta o maior desafio, com a menor taxa de emprego formal, reflexo de uma economia ainda muito dependente de atividades sazonais e de baixa complexidade.
O trabalho por conta própria apresenta um panorama estadual que reflete as vocações econômicas regionais. Em estados com forte tradição agrícola familiar e turismo, como no Nordeste, a proporção de trabalhadores autônomos tende a ser maior. Já em estados com perfil mais industrial, como São Paulo e região Sul, essa modalidade representa uma parcela menor do mercado de trabalho. Entretanto, é importante observar que, mesmo em regiões com economia mais industrializada, tem havido um crescimento constante do empreendedorismo individual, impulsionado pela digitalização e pelas novas formas de organização do trabalho.
Um dado extremamente positivo é o crescimento do rendimento médio real, estimado em R$ 3.410 no primeiro trimestre de 2025. Esse valor representa um aumento tanto em relação ao trimestre anterior quanto ao mesmo período de 2024. Destaca-se o desempenho das regiões Sul e Nordeste, que apresentaram os maiores aumentos percentuais nos rendimentos médios. Este crescimento generalizado dos salários, mesmo em um contexto de aumento da desocupação, indica uma melhoria qualitativa das vagas disponíveis e um ganho de produtividade da economia brasileira como um todo.
A massa de rendimento real habitual atingiu impressionantes R$ 345,0 bilhões, mantendo estabilidade no trimestre e crescendo 6,6% no ano. Esse indicador, que representa o volume total de recursos injetados na economia através dos salários, demonstra que, mesmo com mais pessoas buscando emprego, aquelas que estão trabalhando estão recebendo mais, o que sustenta o consumo e, consequentemente, a atividade econômica. Essa resiliência do mercado de trabalho brasileiro, apresentando indicadores positivos mesmo em um cenário de aumento da desocupação, evidencia uma economia que continua se fortalecendo, apesar dos desafios conjunturais.
Por fim, é fundamental considerar os possíveis impactos da Reforma Tributária de 2025 no mercado de trabalho regional. Com a implementação gradual do CBS e IBS a partir de 2026 e a introdução do Imposto Seletivo para produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, espera-se uma significativa reorganização da atividade econômica no território nacional. A simplificação do sistema tributário tende a beneficiar estados com maior vocação industrial e logística, como São Paulo, Minas Gerais e a região Sul.
Por outro lado, a extinção da guerra fiscal poderá representar um desafio para estados que historicamente utilizam incentivos tributários como ferramenta de atração de investimentos. Os impactos serão heterogêneos, mas há expectativa de que a reforma contribua para reduzir a informalidade em médio prazo, especialmente em regiões onde essa característica é mais acentuada, como o Norte e Nordeste. As empresas formalizadas terão menor custo burocrático e maior segurança jurídica, o que pode estimular a criação de postos de trabalho com carteira assinada.
Referências:
https://www.contadores.cnt.br/noticias/empresariais/2025/05/19/desocupacao-aumenta-em-12-unidades-da-federacao-no-primeiro-trimestre-de-2025-3.html
https://www.gov.br/fazenda/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/reforma-tributaria