A asseguração em relatórios de sustentabilidade está em ascensão consistente no cenário global. Um estudo abrangente realizado pela International Federation of Accountants (IFAC), em parceria com AICPA e CIMA, revela números expressivos: aproximadamente 75% das maiores empresas do mundo já obtiveram algum tipo de verificação externa para suas divulgações de sustentabilidade em 2023. Este percentual representa um crescimento significativo quando comparado aos 69% registrados em 2022 e aos 51% em 2019.
Esses dados refletem uma mudança fundamental na forma como as organizações tratam suas informações ambientais, sociais e de governança (ESG). Em um intervalo de apenas quatro anos, observamos um salto de mais de 20 pontos percentuais nas empresas que buscam validação independente para seus dados de sustentabilidade. No Brasil, esta tendência também se confirma, com empresas de São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais intensificando seus investimentos em relatórios ESG verificados externamente.
O papel das empresas de auditoria neste cenário é crucial para garantir a confiabilidade destas informações. Atualmente, 55% das assegurações são realizadas por empresas de auditoria, uma leve redução comparada aos 58% de 2022. Apesar dessa pequena queda na média global, mercados estratégicos como Cingapura, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos registraram aumento na participação de firmas de auditoria neste processo.
Esta tendência é particularmente relevante para empresas brasileiras que mantêm relações comerciais com estes mercados, pois indica um maior rigor na verificação de dados ESG nessas jurisdições. Por exemplo, empresas exportadoras de Belo Horizonte e Curitiba precisam estar atentas a estes novos padrões de verificação para manter sua competitividade internacional.
Em paralelo às mudanças nos agentes verificadores, observamos também transformações nos formatos de divulgação. A União Europeia tem liderado a consolidação de documentos com a implementação da Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), que padroniza os relatórios de sustentabilidade. Esta consolidação tem influenciado práticas globais, com 44% das empresas analisadas já incluindo informações de sustentabilidade em seus relatórios anuais, contra apenas 18% há cinco anos.
Um aspecto interessante observado no estudo é o ponto de entrada das empresas no universo da asseguração externa. Muitas organizações iniciam este processo pela verificação de seus dados sobre emissões de gases de efeito estufa (GEE). Isto ocorre porque estas informações são quantitativas, com metodologias de cálculo relativamente bem estabelecidas e estão sujeitas a crescente escrutínio regulatório em diversos países.
Para empresas do Sul e Sudeste do Brasil, especialmente aquelas em parques industriais de Porto Alegre, Joinville ou da região do ABC paulista, o monitoramento e a verificação de emissões de GEE representam não apenas uma questão de compliance, mas também um diferencial competitivo em negociações com parceiros internacionais.
O aumento da participação de empresas de auditoria em mercados estratégicos sinaliza uma profissionalização deste setor. Em Cingapura, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos, a procura por serviços de auditoria para relatórios de sustentabilidade cresceu significativamente no último ano. Isto reflete a preferência por firmas com experiência em processos rigorosos de verificação e familiaridade com requisitos regulatórios complexos.
A integração de informações de sustentabilidade em relatórios financeiros é outra tendência consolidada pelo estudo. O percentual de empresas que incluem dados ESG em seus relatórios anuais subiu de 18% para 44% em cinco anos. Esta abordagem integrada facilita a análise pelos investidores e outros stakeholders, permitindo uma visão mais completa do desempenho e dos riscos corporativos.
Esta integração é particularmente relevante para empresas de médio e grande porte de regiões metropolitanas como Recife, Salvador e Fortaleza, que buscam atrair investimentos ou financiamentos internacionais e precisam atender a critérios cada vez mais rigorosos de transparência ESG.
As perspectivas regulatórias apontam para um aumento da obrigatoriedade nas divulgações de sustentabilidade. Diversas jurisdições já implementaram ou estão em processo de implementar regulamentações que tornam mandatória a divulgação de informações ESG, frequentemente com requisitos de verificação externa. A União Europeia, com sua CSRD, lidera este movimento, mas outras regiões estão seguindo caminhos similares.
Entre as jurisdições com maior crescimento na adoção de práticas de asseguração em 2023, destacam-se Hong Kong, Indonésia, México, Rússia e Arábia Saudita. Este dado é particularmente relevante para empresas brasileiras com atividades ou interesses nestes mercados, pois indica uma rápida evolução das exigências locais quanto à verificação de relatórios de sustentabilidade.
O estudo da IFAC, AICPA e CIMA baseou-se em uma análise abrangente de cerca de 1.400 empresas em 22 jurisdições, cobrindo o período de 2019 a 2023. A metodologia incluiu a revisão sistemática de relatórios públicos dessas empresas, com foco nas práticas de divulgação e asseguração de informações de sustentabilidade. Esta ampla cobertura e o rigor metodológico conferem credibilidade aos resultados apresentados e permitem identificar tendências consistentes ao longo do tempo.
Para profissionais contábeis e gestores financeiros de empresas brasileiras, desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas, estes dados oferecem uma visão clara sobre a evolução global das práticas de relato e verificação em sustentabilidade. A tendência inequívoca aponta para mais transparência, maior integração com informações financeiras e verificação externa mais rigorosa, criando novas oportunidades para contadores especializados em asseguração de dados não financeiros.
Referências:
https://www.ifac.org/knowledge-gateway/discussion/state-play-sustainability-assurance