A Revolução dos Padrões de Sustentabilidade no Brasil: O Que a Atualização do ISSB Traz para Empresas e Profissionais Contábeis
O cenário de relatórios de sustentabilidade no Brasil está prestes a passar por uma transformação significativa com a recente atualização de julho de 2025 do International Sustainability Standards Board (ISSB). Para profissionais contábeis, gestores financeiros e empresários brasileiros, estas mudanças representam não apenas novos requisitos regulatórios, mas também oportunidades estratégicas para posicionar seus negócios no contexto da economia global sustentável.
As atualizações do ISSB, divulgadas pelo presidente Emmanuel Faber e pela vice-presidente Sue Lloyd, trazem orientações cruciais sobre divulgações de planos de transição e aplicações setoriais que afetarão diretamente como as empresas brasileiras reportam suas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG).
Panorama das Novas Diretrizes e Seus Impactos no Brasil
As novas diretrizes do ISSB estabelecem um framework mais robusto para divulgações relacionadas à sustentabilidade, com ênfase particular nos planos de transição climática. Para os profissionais contábeis brasileiros, isso significa desenvolver novas competências para avaliar e reportar riscos climáticos e oportunidades de forma consistente e comparável.
No contexto brasileiro, onde a legislação ambiental já possui particularidades próprias, a harmonização com os padrões internacionais do ISSB representa um desafio adicional. As empresas de São Paulo, Rio de Janeiro e outros centros financeiros do país precisarão integrar estes requisitos globais às práticas locais já estabelecidas pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Planos de Transição: O Novo Pilar das Divulgações Sustentáveis
A orientação sobre divulgações de planos de transição é um dos elementos centrais da atualização do ISSB. Estes planos detalham como as organizações pretendem adaptar seus modelos de negócios às mudanças climáticas e à economia de baixo carbono.
Para empresas brasileiras, especialmente aquelas em setores de alto impacto como mineração, siderurgia e energia, a elaboração destes planos exigirá:
- Identificação detalhada de riscos climáticos específicos do contexto brasileiro
- Estabelecimento de metas de redução de emissões alinhadas às NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) do Brasil
- Estratégias para gestão de recursos hídricos, considerando as diferentes realidades hidrológicas das regiões brasileiras
- Avaliação financeira das implicações da transição energética
Os contadores e auditores em Belo Horizonte, Curitiba e outras capitais brasileiras terão papel fundamental em garantir que estas divulgações sejam não apenas completas, mas também verificáveis e suportadas por dados confiáveis.
Orientações Setoriais: Prioridades para o Brasil
Um aspecto determinante da atualização do ISSB é o foco em orientações específicas por setor. Para o Brasil, três setores recebem especial atenção devido à sua relevância econômica e impacto ambiental:
Agronegócio
O agronegócio brasileiro, responsável por parte significativa do PIB nacional, enfrentará requisitos específicos de divulgação relacionados a:
- Uso da terra e desmatamento, especialmente em biomas sensíveis como a Amazônia e o Cerrado
- Consumo de água e impactos em bacias hidrográficas
- Uso de insumos agrícolas e seus impactos ambientais
- Estratégias de adaptação às mudanças climáticas considerando as particularidades das diferentes regiões produtoras
Energia
Para o setor energético brasileiro, com sua matriz predominantemente hidroelétrica e crescente participação de renováveis, as diretrizes do ISSB exigirão:
- Detalhamento da transição para fontes de energia de baixo carbono
- Divulgação de investimentos em novas tecnologias energéticas
- Avaliação dos riscos relacionados às mudanças nos padrões de precipitação e hidrologia
- Estratégias para atender à crescente demanda energética com menor impacto ambiental
Serviços Financeiros
Instituições financeiras brasileiras, de bancos em São Paulo a cooperativas de crédito no interior, precisarão adaptar-se às orientações do ISSB que incluem:
- Avaliação e divulgação dos riscos climáticos em suas carteiras de empréstimos
- Políticas de financiamento para setores de alto impacto ambiental
- Estratégias para direcionar capital para a economia verde e de baixo carbono
- Mecanismos para incorporar critérios ESG nas decisões de investimento
Cronograma e Preparação para Implementação no Brasil
O ISSB estabeleceu um cronograma de implementação que empresas e profissionais brasileiros devem acompanhar atentamente:
- Último trimestre de 2025: Publicação de orientações detalhadas de implementação
- Primeiro semestre de 2026: Eventos de capacitação e webinars específicos para o mercado latino-americano
- Segundo semestre de 2026: Início do período de adoção voluntária para empresas brasileiras
- 2027: Expectativa de adoção obrigatória para empresas listadas nas principais bolsas globais, incluindo a B3
Para profissionais contábeis brasileiros, é essencial participar dos eventos programados pelo ISSB e suas entidades parceiras no Brasil, como o CFC e o IBRACON, para garantir a adequada preparação para este novo cenário regulatório.
Mantendo-se Atualizado: Recursos Disponíveis
O ISSB disponibiliza diversos recursos para que profissionais e empresas brasileiras possam acompanhar as evoluções dos padrões de sustentabilidade:
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ISSB Update Podcast: Acessível via Spotify, iTunes e YouTube, com episódios dedicados a questões específicas do mercado latino-americano.
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Webinars e Seminários: Eventos virtuais e presenciais programados para Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro nos próximos meses.
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Material Técnico: Documentos de orientação traduzidos para o português, adaptados às particularidades do mercado brasileiro.
Para acessar estes recursos, basta visitar a página oficial do ISSB ou as plataformas de streaming mencionadas, onde o conteúdo está disponível gratuitamente.
Implementação Prática nas Empresas Brasileiras
Para implementar efetivamente os padrões de sustentabilidade do ISSB, as empresas brasileiras podem seguir este passo a passo:
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Avaliação de Materialidade: Identificar os aspectos de sustentabilidade mais relevantes para o setor e contexto específico da empresa, considerando as particularidades regionais brasileiras.
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Mapeamento de Lacunas: Comparar as práticas atuais de divulgação com os requisitos do ISSB para identificar áreas que necessitam de desenvolvimento.
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Capacitação de Equipes: Investir na formação de contadores, financeiros e gestores sobre os novos padrões, aproveitando os recursos disponibilizados pelo CFC e entidades parceiras.
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Integração de Sistemas: Adaptar sistemas de informação para capturar e processar dados relacionados à sustentabilidade de forma eficiente e auditável.
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Desenvolvimento de Processos: Estabelecer processos robustos de coleta, validação e reporte de informações de sustentabilidade.
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Alinhamento com Auditores: Engajar auditores externos desde o início para garantir que as divulgações atendam aos requisitos de verificação.
Benefícios e Desafios para o Mercado Brasileiro
A adoção dos padrões do ISSB traz tanto benefícios quanto desafios para as empresas e profissionais brasileiros.
Benefícios
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Acesso a Capital Internacional: Empresas brasileiras alinhadas aos padrões globais terão maior acesso a investidores que priorizam critérios ESG.
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Vantagem Competitiva: Especialmente para exportadores brasileiros, que poderão demonstrar conformidade com padrões internacionalmente reconhecidos.
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Melhor Gestão de Riscos: A análise sistemática de questões de sustentabilidade contribui para identificação antecipada de riscos nos diferentes biomas e contextos socioeconômicos brasileiros.
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Oportunidades de Inovação: O processo de adaptação pode catalisar inovações em produtos e serviços alinhados à economia de baixo carbono.
Desafios
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Complexidade Técnica: A implementação requer conhecimentos específicos que ainda são escassos no mercado brasileiro.
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Custos de Implementação: Especialmente desafiadores para pequenas e médias empresas em regiões menos desenvolvidas do país.
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Harmonização com Requisitos Locais: Necessidade de conciliar os padrões do ISSB com as exigências de órgãos reguladores brasileiros.
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Disponibilidade de Dados: Em algumas regiões do Brasil, a coleta de dados ambientais e sociais confiáveis pode ser particularmente desafiadora.
O futuro da contabilidade e dos relatórios corporativos no Brasil está intrinsecamente ligado à sustentabilidade. As atualizações do ISSB representam um passo significativo na consolidação deste paradigma, exigindo adaptação e desenvolvimento de novas competências por parte de profissionais contábeis e empresas.
Para o mercado brasileiro, com suas particularidades ambientais, sociais e econômicas, a adoção destes padrões não é apenas uma questão de conformidade regulatória, mas uma oportunidade estratégica de posicionamento no cenário global. Ao incorporar estas práticas, empresas de Manaus a Porto Alegre não apenas atenderão às expectativas crescentes de investidores e consumidores, mas também contribuirão para o desenvolvimento sustentável do país.
Referências:
https://cfc.org.br/noticias/issb-divulga-atualizacao-de-julho-de-2025-com-novidades-sobre-padroes-de-sustentabilidade/
https://www.ifrs.org/groups/international-sustainability-standards-board/
https://www.ifrs.org/podcasts/