Desafios e Oportunidades: Como a Alta da Selic e a Reforma Tributária Impactam Empresas Brasileiras até 2026

O Banco Central elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano, marcando a sexta alta consecutiva desde o início de 2024. Esta decisão, confirmada após reunião do Copom nos dias 6 e 7 de maio, coloca os juros brasileiros no maior patamar em quase duas décadas, mais precisamente desde julho de 2006. O movimento era amplamente esperado pelo mercado financeiro, embora a magnitude do aumento tenha dividido opiniões entre especialistas.

O ciclo de elevações da taxa básica começou ainda no primeiro trimestre de 2024, quando sinais de pressão inflacionária levaram o BC a retomar a tendência de alta após um período de estabilidade. Desde então, assistimos a aumentos consecutivos que transformaram significativamente o cenário econômico brasileiro, especialmente para empresas em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais, onde o impacto no crédito é sentido de forma mais imediata.

As projeções das principais instituições financeiras apontam para cenários distintos sobre o futuro da Selic. O C6 Bank, por exemplo, estima que os juros possam alcançar 15% até junho, mantendo-se nesse patamar elevado até o final de 2026. Já o economista Gustavo Sung, da Suno Research, apresenta uma visão ainda mais conservadora, projetando que a taxa possa ser elevada em até 0,75 ponto percentual, com o ciclo terminando em 15,25% ao ano. Na mesma linha, o Itaú mantém sua projeção de fim de ciclo também em 15,25% na reunião de junho.

O mecanismo pelo qual a Selic atua no controle inflacionário é relativamente direto, embora seus efeitos sejam sentidos de forma desigual na economia. Ao elevar a taxa básica, o Banco Central encarece o crédito, reduzindo a disponibilidade de dinheiro em circulação. Com menos recursos disponíveis para consumo e investimentos, a demanda tende a diminuir, pressionando os preços para baixo. É um remédio amargo, mas que vem sendo aplicado em diversos momentos da história econômica brasileira.

O atual patamar de 14,75% representa o maior nível da Selic desde 2006. Naquela época, o Brasil vivia um contexto econômico diferente, ainda consolidando sua estabilidade macroeconômica. Hoje, atingimos níveis semelhantes em resposta às pressões inflacionárias persistentes que desafiam o BC a cumprir a meta estabelecida. Este comparativo histórico evidencia como as autoridades monetárias brasileiras têm recorrido a ferramentas similares para enfrentar desafios inflacionários, apesar das diferenças contextuais entre os períodos.

Um dado animador é a recente desaceleração da inflação. O IPCA-15, considerado uma prévia do índice oficial, mostrou tendência de queda, embora ainda acumule 5,49% em 12 meses – valor significativamente distante da meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Em cidades como Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador, os índices de preços apresentam variações que refletem as particularidades regionais, mas seguem a tendência geral de pressão inflacionária acima do desejado.

Os impactos da Selic elevada se manifestam em diversas frentes. Para as empresas, especialmente pequenos e médios negócios de regiões como Nordeste e Centro-Oeste, o acesso ao crédito torna-se mais restrito e caro, limitando investimentos e expansões. Para os consumidores, financiamentos imobiliários, aquisição de veículos e empréstimos pessoais ficam mais onerosos, reduzindo o poder de compra. Este cenário tende a desacelerar o crescimento econômico como um todo, já que tanto o consumo quanto os investimentos são prejudicados pela política monetária restritiva.

Quanto às perspectivas para o fim do ciclo de alta, a maioria dos analistas converge para a ideia de que estamos próximos do teto. Com a Selic chegando a 15% ou 15,25% até junho ou julho, espera-se uma estabilização seguida de um período prolongado de manutenção em patamares elevados. O início de um eventual ciclo de queda dependeria fundamentalmente da convergência da inflação para a meta – processo que pode se estender por todo o ano de 2025, segundo projeções do mercado.

Um fator adicional que torna o cenário ainda mais complexo é a implementação da Reforma Tributária. Com a promulgação da Emenda Constitucional 132 em dezembro de 2023 e a aprovação da Lei Complementar nº 214 em janeiro de 2025, o Brasil inicia uma profunda transformação em seu sistema de tributação sobre consumo. Esta reforma, que começará a ser implementada gradualmente a partir de 2026, adiciona um elemento de incerteza ao cenário econômico, justamente no momento em que a política monetária se encontra restritiva.

O desafio para as autoridades é encontrar o equilíbrio entre política fiscal e monetária. Enquanto os juros elevados tendem a conter a inflação, podem também dificultar a recuperação econômica necessária para o sucesso da implementação da reforma tributária. Para empresas de Curitiba, Fortaleza e Recife, assim como de outras regiões, este cenário exige atenção redobrada ao planejamento financeiro e tributário nos próximos anos.

Diante deste cenário desafiador, empresas e investidores precisam adaptar suas estratégias. Para os investidores, ativos de renda fixa ganham atratividade, enquanto o mercado de ações tende a sofrer com a migração de recursos. Para as empresas, especialmente em regiões metropolitanas onde a competição é mais acirrada, como Campinas, Goiânia e Brasília, é fundamental revisar estruturas de capital, alongar dívidas quando possível e priorizar investimentos com retorno mais imediato.

Operações que dependem de crédito devem ser cuidadosamente avaliadas, pois o custo de capital elevado pode inviabilizar projetos anteriormente rentáveis. Empresas com boa gestão de caixa terão vantagem competitiva significativa neste período, podendo inclusive aproveitar oportunidades de consolidação em seus setores, já que concorrentes mais dependentes de capital de terceiros enfrentarão maiores dificuldades.

O cenário de juros elevados, combinado com a implementação gradual da Reforma Tributária, exigirá dos gestores brasileiros uma visão estratégica de médio e longo prazo, priorizando eficiência operacional e solidez financeira como bases para atravessar este período desafiador que se estende até 2026 ou além, dependendo da evolução dos indicadores macroeconômicos.

Referências:
https://www.contadores.cnt.br/noticias/empresariais/2025/05/05/nova-taxa-basica-de-juros-definida-pelo-bc-nesta-semana-pode-atingir-maior-nivel-em-19-anos.html
https://www.gov.br/fazenda/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/reforma-tributaria

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