O cenário regulatório brasileiro para relatos climáticos está ganhando nova dimensão com as recentes publicações da Fundação IFRS. Empresas de todos os portes, especialmente aquelas com operações em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais onde a pressão por transparência ambiental é crescente, enfrentam um novo desafio: como incorporar adequadamente as incertezas climáticas em suas demonstrações financeiras.
A Fundação IFRS publicou exemplos quase finais que demonstram como as empresas podem melhorar a divulgação de incertezas em suas demonstrações financeiras, utilizando cenários relacionados ao clima. Esta iniciativa responde diretamente às preocupações do mercado brasileiro, onde investidores e stakeholders têm demandado informações mais precisas sobre como as empresas estão avaliando e gerenciando riscos climáticos.
Para empresas e profissionais contábeis brasileiros, compreender o conceito de incertezas contábeis segundo as Normas IFRS é o primeiro passo para uma adequada implementação. As incertezas contábeis referem-se a situações em que os valores reconhecidos nas demonstrações financeiras não podem ser determinados com precisão, mas apenas estimados. No contexto climático, estas incertezas podem incluir a vida útil de ativos que possam ser afetados por regulamentações ambientais mais rigorosas, o valor recuperável de investimentos em setores de alto carbono ou provisões para passivos ambientais futuros.
Os exemplos publicados pela Fundação IFRS apresentam uma estrutura clara para abordar estas questões. Eles ilustram como incorporar cenários de transição energética, precificação de carbono e eventos climáticos extremos nas avaliações contábeis. Para empresas brasileiras, especialmente aquelas com operações em regiões como o Pantanal, Amazônia ou áreas costeiras vulneráveis, estes exemplos fornecem um valioso ponto de partida para análises mais robustas.
A implementação das orientações do IASB e ISSB em demonstrações financeiras brasileiras segue um processo estruturado. Primeiramente, é necessário identificar as áreas das demonstrações financeiras potencialmente afetadas por riscos climáticos. Depois, avaliar como esses riscos podem impactar estimativas e julgamentos contábeis, incorporar estas considerações nos cálculos e, por fim, divulgar adequadamente as premissas utilizadas.
No Brasil, onde a CVM já vem sinalizando maior atenção à divulgação de riscos climáticos, este processo torna-se ainda mais relevante. Empresas brasileiras, especialmente as de capital aberto ou aquelas que buscam atrair investimentos internacionais, precisam adequar suas demonstrações às melhores práticas globais.
Para auditoria e compliance das divulgações de riscos climáticos, ferramentas específicas e checklists são fundamentais. Estes incluem matrizes de materialidade para identificar os riscos climáticos mais relevantes para cada negócio, documentação das premissas utilizadas nas estimativas contábeis e revisão da consistência entre as informações divulgadas nas demonstrações financeiras e em outros relatórios corporativos, como relatórios de sustentabilidade.
A comunicação transparente com stakeholders locais é essencial neste processo. No contexto brasileiro, onde a conscientização sobre questões climáticas vem crescendo, empresas que demonstram abertura e clareza sobre como estão abordando estes riscos tendem a construir maior confiança com investidores, clientes e comunidades. Esta comunicação deve ser adaptada às características do mercado local, reconhecendo a familiaridade variável dos diferentes públicos com conceitos técnicos contábeis e climáticos.
Um dos maiores desafios na implementação destas orientações é a mensuração precisa de ativos e passivos sob incertezas climáticas. Como avaliar, por exemplo, o impacto de futuras legislações ambientais no valor de ativos de longa duração? Como estimar provisões para possíveis litígios climáticos? Empresas brasileiras podem adotar soluções como análises de cenários múltiplos, incorporação de prêmios de risco específicos nas taxas de desconto e desenvolvimento de modelos probabilísticos que capturem a amplitude das possíveis trajetórias climáticas.
A publicação final destes exemplos, prevista para outubro de 2025, trará impactos significativos para empresas e escritórios de contabilidade no Brasil. Espera-se uma maior demanda por profissionais capacitados em questões climáticas, investimentos em sistemas para captura e processamento de dados ambientais e uma possível reestruturação dos processos de elaboração das demonstrações financeiras para incorporar estas novas considerações.
Para profissionais de contabilidade e finanças que desejam se preparar para este novo cenário, diversos recursos complementares estão disponíveis. Destacam-se cursos especializados oferecidos pelo Conselho Federal de Contabilidade e entidades como IBRACON, webinars promovidos por grandes firmas de auditoria com presença no Brasil, e grupos de discussão setoriais que compartilham experiências e melhores práticas.
As orientações da Fundação IFRS representam um avanço significativo na integração de questões climáticas nas demonstrações financeiras. Para o mercado brasileiro, tradicionalmente atento às normas internacionais de contabilidade, esta é uma oportunidade de aprimorar a qualidade e relevância das informações financeiras, respondendo às crescentes expectativas de transparência e responsabilidade ambiental.
Referências
- https://www.portalcontnews.com.br/fundacao-ifrs-publica-exemplos-para-relatar-incertezas-em-demonstracoes-financeiras-relacionadas-ao-clima/
- https://www.ifrs.org/supporting-implementation/climate-related-risks/climate-related-risks-in-the-financial-statements/
- https://www.iasplus.com/en/meeting-notes/ifrs-foundation/issb/2023/july/deloitte-climate-related-matters
- https://www.pwc.com/us/en/services/consulting/cybersecurity-risk-regulatory/library/climate-change-accounting-for-impact.html