Cultura Ética nas Empresas de Contabilidade Brasileiras: Perspectivas e Práticas Recomendadas pelo IESBA
O cenário contábil brasileiro vem acompanhando uma importante evolução nas discussões sobre cultura ética e governança corporativa. Recentemente, o Conselho Internacional de Normas Éticas para Contadores (IESBA) divulgou resultados de mesas redondas globais que reuniram 168 participantes de diversas áreas, incluindo reguladores, investidores, normalizadores e representantes de empresas contábeis de todo o mundo. Esse movimento reflete a crescente preocupação com a integridade e a transparência nas práticas profissionais, elementos fundamentais para a confiança pública no mercado contábil nacional.
As mesas redondas, realizadas em cidades como Nova York, Melbourne, Bruxelas e Kuala Lumpur, além de sessões virtuais para África e América Latina, discutiram oito elementos centrais que compõem uma cultura empresarial ética. O foco dessas discussões trouxe insights valiosos que podem transformar a maneira como escritórios contábeis brasileiros, de Brasília a São Paulo, desenvolvem suas políticas internas e práticas profissionais.
A liderança ética surge como primeiro pilar dessa estrutura. Em empresas contábeis brasileiras, isso significa que os sócios e gestores devem demonstrar compromisso genuíno com valores éticos, não apenas em declarações formais, mas principalmente em suas decisões cotidianas. Quando líderes de escritórios contábeis priorizam a integridade acima dos resultados financeiros imediatos, estabelecem um poderoso exemplo para toda a equipe.
A supervisão e a governança adequadas constituem o segundo elemento essencial. No contexto brasileiro, onde a fiscalização dos Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs) é constante, é crucial implementar estruturas de governança robustas. Empresas contábeis que operam em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro já vêm adotando comitês de ética e estabelecendo canais de comunicação para relatar preocupações éticas, práticas que devem se expandir para escritórios de menor porte em todo território nacional.
A responsabilidade representa outro componente fundamental destacado nas discussões do IESBA. Profissionais contábeis brasileiros devem compreender claramente suas responsabilidades éticas e as consequências de violações. É essencial estabelecer mecanismos que assegurem que todos os colaboradores, do estagiário ao sócio-diretor, sejam responsabilizados pelo cumprimento dos padrões éticos estabelecidos pelo Código de Ética Profissional do Contador.
Um aspecto crítico frequentemente negligenciado refere-se aos incentivos e recompensas. Escritórios contábeis brasileiros precisam alinhar seus sistemas de avaliação de desempenho e promoção aos valores éticos da organização. Quando a remuneração e o reconhecimento valorizam apenas metas financeiras, ignorando a qualidade ética do trabalho, cria-se um ambiente propício a violações. Empresas em Belo Horizonte, Porto Alegre e outras capitais já começam a incluir componentes éticos em suas avaliações de desempenho, reconhecendo profissionais que demonstram integridade exemplar.
A discussão aberta e a capacidade de enfrentar desafios éticos compõem o quinto elemento destacado pelo IESBA. No contexto brasileiro, marcado por relacionamentos hierárquicos muitas vezes rígidos, é essencial criar um ambiente onde os profissionais sintam-se à vontade para expressar preocupações éticas sem temor de retaliação. Escritórios contábeis em Brasília, por sua proximidade com órgãos governamentais, enfrentam desafios particulares que requerem canais confidenciais para discussão de dilemas éticos específicos da região.
A educação e o treinamento contínuo emergem como ferramentas indispensáveis para fortalecer a cultura ética. No Brasil, onde a legislação contábil e tributária é complexa e muda constantemente, a educação ética não pode ser um evento único. Programas de desenvolvimento profissional promovidos pelos CRCs nas diversas regiões do país devem incorporar módulos específicos sobre ética aplicada aos desafios regionais. Um contador atuando no Nordeste pode enfrentar dilemas diferentes daqueles vivenciados por profissionais na região Sul, e a capacitação deve refletir essas particularidades.
A transparência no desempenho ético representa outro pilar destacado nas discussões globais. Empresas contábeis brasileiras podem implementar indicadores que mensuram aspectos como número de violações éticas identificadas, medidas corretivas adotadas e satisfação dos clientes com a integridade dos serviços prestados. Essa prática, já adotada por escritórios de grande porte em São Paulo, fortalece a confiança dos clientes e do mercado.
A adaptação da governança corporativa ao contexto brasileiro constitui um desafio particular. As diretrizes do IESBA precisam ser contextualizadas considerando as peculiaridades culturais, econômicas e regulatórias do país. Escritórios contábeis nacionais devem desenvolver estruturas que incorporem tanto as melhores práticas internacionais quanto as necessidades específicas do mercado brasileiro, criando um modelo híbrido eficaz.
O IESBA planeja lançar, até 2026, um plano abrangente que incluirá orientações práticas e iniciativas para ajudar as empresas a promover uma cultura ética sólida. Empresas contábeis brasileiras que desejam se antecipar podem começar a implementar mudanças baseadas nos oito elementos identificados, adaptando-os à sua realidade específica. O plano de ação deve incluir uma avaliação da cultura atual, identificação de áreas problemáticas e desenvolvimento de estratégias para fortalecer os componentes mais fracos.
O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) desempenha papel crucial nesse processo como principal órgão normatizador e fiscalizador da profissão no Brasil. Trabalhando em sintonia com o IESBA, o CFC tem a responsabilidade de adaptar as diretrizes internacionais ao contexto nacional e assegurar sua implementação efetiva. O diálogo constante entre esses órgãos fortalece a harmonização das práticas éticas brasileiras com os padrões globais, facilitando a atuação internacional de contadores brasileiros.
Para contadores que desejam aprimorar suas práticas éticas, diversos recursos estão disponíveis online. O site do IESBA oferece publicações sobre cultura e governança empresarial, enquanto o portal do CFC disponibiliza normas, orientações técnicas e webinars sobre o tema. O Sebrae também mantém conteúdos valiosos sobre ética empresarial adaptados à realidade brasileira, e o Instituto ARC promove regularmente eventos e discussões sobre cultura organizacional e transparência.
Implementar uma cultura ética robusta não é apenas uma questão de conformidade regulatória, mas um diferencial competitivo para escritórios contábeis brasileiros. Clientes cada vez mais valorizam a integridade e a transparência, especialmente após os diversos escândalos corporativos que abalaram a confiança pública nos últimos anos. Empresas contábeis que se destacam por suas práticas éticas exemplares constroem reputações sólidas que se traduzem em fidelização de clientes e crescimento sustentável.
A jornada para fortalecer a cultura ética nas empresas contábeis brasileiras é contínua e exige comprometimento genuíno. Os oito elementos destacados pelo IESBA oferecem um roteiro valioso para nortear esse processo, mas sua efetividade depende da adaptação às realidades locais e da internalização genuína desses valores por todos os profissionais envolvidos. À medida que o mercado contábil brasileiro evolui e se internacionaliza, a solidez ética torna-se não apenas uma obrigação, mas um pré-requisito para o sucesso duradouro.
Referências:
https://cfc.org.br/noticias/iesba-reune-perspectivas-globais-para-fortalecer-cultura-etica-e-governanca-corporativa/
https://www.ethicsboard.org/firm-culture-governance
https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/cultura-organizacional-qual-a-importancia-da-etica-e-transparencia,c8b291c452971710VgnVCM1000004c00210aRCRD
https://www.youtube.com/watch?v=qEwbM6T8_6o