A governança digital e o futuro da equidade salarial no Brasil pós-Lei nº 14.611/2023
A equidade salarial no Brasil ganhou um novo capítulo com a promulgação da Lei nº 14.611/2023, que passou a exigir que empresas com cem ou mais funcionários publiquem semestralmente relatórios detalhados sobre a remuneração de seus colaboradores. Esta legislação representa um marco na busca por transparência e justiça nas relações trabalhistas, especialmente para grupos historicamente prejudicados por disparidades salariais.
O cenário atual, no entanto, ainda apresenta desafios significativos. Conforme revelado pelo 3º Relatório de Transparência Salarial divulgado em abril de 2025, as mulheres brasileiras continuam recebendo, em média, 20,9% menos que os homens em funções equivalentes. A situação é ainda mais alarmante quando analisamos os dados por recorte racial: mulheres negras recebem apenas 47,5% do salário de homens não negros, evidenciando uma desigualdade estrutural que persiste no mercado de trabalho nacional.
O não cumprimento das exigências legais implica em multas que podem chegar a 3% da folha de pagamento, com limite de cem salários mínimos. Contudo, para além do aspecto punitivo, empresas brasileiras têm percebido que a governança digital representa uma ferramenta estratégica que transcende o mero compliance legal, posicionando-se como um diferencial competitivo no mercado.
O uso de tecnologias como business intelligence, analytics e automação de processos tem se mostrado essencial para implementar uma verdadeira transparência salarial. Estas ferramentas permitem que organizações de diferentes portes e segmentos coletem, analisem e interpretem dados em tempo real, criando um diagnóstico preciso da situação salarial interna e facilitando a tomada de decisões baseadas em evidências.
Uma das maiores vantagens da análise de dados em tempo real é a capacidade de identificar disparidades salariais que poderiam passar despercebidas em processos manuais tradicionais. Sistemas digitais conseguem processar grandes volumes de informações, cruzando variáveis como gênero, etnia, idade, tempo de casa, desempenho e formação, revelando padrões que muitas vezes não são evidentes em análises superficiais. Em São Paulo, por exemplo, empresas do setor financeiro têm implementado painéis de controle (dashboards) que monitoram continuamente as diferenças salariais e alertam gestores quando as disparidades ultrapassam limites predefinidos.
Além de identificar desigualdades existentes, a governança digital também contribui para mitigar vieses inconscientes nos processos de contratação, promoção e remuneração. Ao estabelecer critérios objetivos digitalmente mensuráveis, as empresas reduzem a influência de julgamentos subjetivos que frequentemente desfavorecem mulheres e minorias étnicas. Em Belo Horizonte, startups de recursos humanos têm desenvolvido algoritmos específicos para “cegar” processos seletivos, garantindo que as avaliações sejam baseadas exclusivamente em competências e resultados.
O aspecto educacional também se beneficia da transformação digital. Plataformas digitais têm se mostrado excelentes facilitadoras de trilhas educativas para lideranças, disseminando conhecimento sobre equidade, diversidade e inclusão. Programas de e-learning implementados em empresas do Rio de Janeiro e Porto Alegre já demonstram resultados positivos na conscientização de gestores e na construção de uma cultura organizacional mais inclusiva, com redução mensurável nas disparidades salariais ao longo do tempo.
Do ponto de vista econômico, a ampliação da equidade salarial representa não apenas uma questão de justiça social, mas também uma oportunidade de desenvolvimento. Dados de 2024 indicam que a equiparação salarial entre homens e mulheres poderia injetar aproximadamente R$ 95 bilhões na economia brasileira. Este número impressionante demonstra o potencial transformador que políticas de equidade podem ter no cenário macroeconômico nacional.
Nos últimos dez anos, já é possível observar uma evolução gradual: a participação feminina na massa salarial cresceu de 35,7% para 37,4%. Embora o avanço seja modesto, ele indica uma tendência positiva que pode ser acelerada com a implementação mais ampla de governança digital nas empresas brasileiras.
Para as organizações que atuam no mercado nacional, especialmente em polos empresariais como São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis, a implementação de sistemas de governança digital voltados à equidade salarial representa tanto desafios quanto oportunidades. Entre os principais desafios estão a necessidade de investimento em tecnologia, a capacitação de equipes para uso adequado das ferramentas analíticas e a integração de diferentes bancos de dados corporativos.
Por outro lado, as oportunidades são igualmente significativas: fortalecimento da marca empregadora, redução de riscos jurídicos e reputacionais, melhoria do clima organizacional e potencial aumento de produtividade. Empresas paranaenses do setor de tecnologia que já implementaram sistemas robustos de governança digital relatam melhorias significativas em seus indicadores de retenção de talentos, especialmente entre profissionais mulheres e de grupos minoritários.
À medida que a sociedade brasileira avança em sua compreensão sobre equidade e justiça no ambiente de trabalho, fica cada vez mais evidente que as organizações que internalizarem a governança digital como ferramenta estratégica – e não apenas como obrigação legal – estarão melhor posicionadas para prosperar em um mercado cada vez mais consciente e exigente. Em cidades como Recife e Salvador, onde o ecossistema de inovação tem crescido consistentemente, já surgem consultorias especializadas em implementação de governança digital para equidade salarial, demonstrando a formação de um mercado específico para atender a esta demanda.
A jornada rumo à plena equidade salarial no Brasil ainda é longa, mas a combinação entre marco regulatório claro, tecnologias avançadas e mudança cultural nas organizações aponta para um futuro mais justo e equilibrado. Para empresários e gestores de todo o país, o momento exige não apenas adaptação à nova realidade legal, mas uma verdadeira transformação na forma como valorizam e remuneram seus talentos.
Referências:
https://www.mundorh.com.br/a-governanca-digital-e-o-futuro-da-equidade-salarial-no-brasil/
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2024/04/12/lei-de-igualdade-salarial-impactos-desafios-e-oportunidades-para-as-empresas.ghtml
https://exame.com/carreira/como-a-tecnologia-ajuda-as-empresas-a-promover-a-equidade-salarial/
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-05/lei-economia-igualdade-salarial-dados