A Humanização do RH em São Paulo: Quando Tecnologia e Emoção Caminham Juntas

Em meio à crescente onda tecnológica que transforma São Paulo e todo o mercado de trabalho brasileiro, os departamentos de Recursos Humanos enfrentam um desafio singular: integrar sistemas de inteligência artificial e soluções digitais sem perder de vista o elemento mais importante de seu trabalho – as pessoas e suas histórias.

O cenário atual exige dos profissionais de RH em São Paulo uma abordagem que vai além da eficiência operacional. Como destacou Benilda Brito, consultora especializada em diversidade, durante o recente Universo TOTVS realizado no Expo Center Norte: “Mais do que resultados, o RH está lidando com pessoas, com histórias, com trajetórias”. Esta frase resume perfeitamente o movimento de humanização que vem ganhando força no setor.

A filosofia Ubuntu, originária da África, oferece uma perspectiva valiosa para os RHs paulistanos que buscam essa transformação. Baseada na interdependência e no reconhecimento da humanidade do outro, este princípio pode ser traduzido na expressão “eu sou porque nós somos”. Quando aplicada às práticas corporativas, especialmente na gestão de pessoas, esta filosofia incentiva a criação de ambientes verdadeiramente inclusivos, onde cada colaborador é reconhecido em sua integralidade.

Um dos conceitos mais interessantes trazidos por esta abordagem é a “ritualização do RH” – a implementação de momentos significativos que honram as experiências e trajetórias dos colaboradores. Empresas paulistanas pioneiras já adotam práticas como a “chegança”, um ritual de acolhimento onde candidatos e novos funcionários compartilham suas histórias de vida, criando conexões genuínas desde o primeiro contato.

A inteligência artificial, por sua vez, se apresenta como uma ferramenta de dupla face neste contexto. Dados da TOTVS em parceria com a h2r insights & trends revelam que 50% das empresas brasileiras ainda não utilizam IA de maneira estruturada em seus processos de RH. Entre as que utilizam, apenas 8% consideram sua implementação avançada, com a maioria (58%) ainda em estágio inicial.

As preocupações são compreensíveis: segurança dos dados (36%), falta de profissionais qualificados (35%) e dificuldade em medir o retorno sobre o investimento (32%) encabeçam a lista de obstáculos. Porém, quando bem implementada, a IA pode potencializar, não diminuir, a humanização dos processos.

No recrutamento e seleção, por exemplo, empresas de São Paulo estão utilizando ferramentas de IA para eliminar vieses inconscientes e garantir processos mais justos. Como alertou Benilda Brito: “Muitos profissionais de RH utilizam a IA na seleção. Mas quem organiza? Quem planeja? E com qual interesse?”. A tecnologia reflete as intenções de quem a programa, evidenciando a necessidade de uma abordagem consciente e ética em sua implementação.

O conceito de employer branding ganha relevância especial neste contexto. Comunicar valores e cultura organizacional de forma autêntica torna-se fundamental para atrair talentos alinhados ao propósito da empresa. Não se trata apenas de projetar uma imagem atraente, mas de efetivamente construir ambientes onde as pessoas possam se desenvolver plenamente.

As empresas paulistanas mais inovadoras já reconhecem que precisam superar o discurso superficial da meritocracia. Como observado durante o evento da TOTVS: “Para o RH, é conhecer a história e entender que a meritocracia é um discurso falso. Ritos de direção, acolhimento, de comemorar junto são importantes”. Esta visão reconhece que oportunidades não são igualmente distribuídas e que uma abordagem verdadeiramente justa leva em consideração os diferentes pontos de partida de cada indivíduo.

Outro aspecto fundamental desta transformação é a aplicação de estratégias de marketing ao RH. Ana Coelho, especialista em soluções de vendas e relacionamento, destacou durante sua apresentação que 95% das decisões de compra são emocionais – um princípio igualmente aplicável à experiência dos colaboradores. “Quando falamos em critérios de escolha, a maior parte das nossas escolhas está ligada a como nos sentimos”, explicou.

Esta perspectiva convida os departamentos de RH a considerar a jornada do colaborador como uma “experiência” que deve despertar emoções positivas. Desde o processo seletivo até a integração e desenvolvimento de carreira, cada ponto de contato influencia a percepção e o engajamento dos profissionais.

Em São Paulo, empresas como a TOTVS já oferecem soluções tecnológicas que contemplam toda esta visão integrada. Robson Campos, Diretor da Plataforma RH da empresa, destaca que suas ferramentas cobrem desde o employer branding até gestão de carreira e sucessão: “A IA permeia todo esse cenário e coloca na mão dos nossos clientes a melhor solução de RH, garantindo a melhor experiência para os colaboradores.”

A admissão digital é um exemplo concreto desta integração entre tecnologia e experiência humana. “Se você faz um recrutamento fluido e consistente, mas trabalha uma admissão na qual a pessoa tem que se deslocar para levar documentos, você gera uma fricção no processo”, explica Campos. A transformação digital do RH precisa ser completa e coerente, eliminando atritos que comprometam a experiência do colaborador.

Esta evolução do RH paulistano reflete uma tendência global, mas com características locais importantes. A diversidade étnica e cultural de São Paulo exige que as políticas de inclusão sejam genuínas e efetivas. Como destacou Benilda Brito, “não existe neutralidade diante do racismo. Se você não se posiciona contra, você está se posicionando a favor.”

O papel das lideranças neste processo é fundamental. Os gestores precisam incorporar estes valores em suas práticas diárias, oferecendo feedback construtivo e demonstrando compromisso genuíno com o desenvolvimento de suas equipes. “A liderança tem que se posicionar, estar atenta, dar feedback. Mas o RH é importante como porta de entrada para que nós, pessoas pretas, conquistemos o nosso espaço”, ressaltou Brito.

É interessante observar como as transformações sociais impactam as expectativas dos colaboradores. Ana Coelho trouxe dados reveladores: 24% da população mundial se declara solitária, enquanto 66% dos jovens da Geração Z e Alpha afirmam que passar tempo com amigos é seu principal objetivo na vida. Este cenário alimenta o que ela chamou de “economia da solidão” – um fenômeno que também influencia as relações de trabalho e as expectativas em relação às empresas.

Nos próximos anos, os departamentos de RH em São Paulo que conseguirem equilibrar a implementação de tecnologias avançadas com uma abordagem profundamente humana e inclusiva estarão melhor posicionados para atrair e reter os melhores talentos. A ritualização do RH, inspirada pela filosofia Ubuntu, oferece um caminho promissor para esta integração, resgatando o sentido profundo do trabalho com pessoas: construir caminhos com propósito, sensibilidade e responsabilidade.

Este é o momento para os profissionais de RH paulistanos repensarem suas práticas, abraçando a tecnologia não como um fim em si mesma, mas como um meio para amplificar sua capacidade de conectar-se genuinamente com as pessoas, honrando suas histórias e criando ambientes onde possam prosperar em sua plenitude.

Referências:

https://rhpravoce.com.br/canal/universo-totvs-felicidade-nao-e-hype
https://fia.com.br/blog/ia-no-rh/
https://www.gupy.io/blog/tendencias-de-rh
https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/human-capital/articles/tendencias-capital-humano.html
https://www.totvs.com/rh/