ISSA 5000: A Nova Fronteira da Confiabilidade em Auditorias de Sustentabilidade no Brasil

Quais foram os principais pontos discutidos no Painel do 2º Fórum CBPS de Sustentabilidade?

O Painel do 2º Fórum CBPS de Sustentabilidade abordou principalmente a importância da confiabilidade nos relatórios de sustentabilidade no cenário econômico atual. Entre os temas centrais estiveram a apresentação da Norma Internacional de Garantia de Sustentabilidade (ISSA 5000), os desafios éticos enfrentados pelos auditores, a implementação de padrões internacionais e as diferenças regulatórias entre o Brasil e outros países. O evento contou com a participação de especialistas como Willie Botha (Diretor Técnico do IAASB), Ken Siong (Diretor Sênior do IESBA) e representantes do mercado brasileiro, que discutiram como os novos padrões podem aumentar a confiabilidade das informações divulgadas pelas empresas e combater práticas de greenwashing.

Qual a importância da Norma Internacional de Garantia de Sustentabilidade (ISSA 5000) no atual cenário econômico?

A ISSA 5000 representa um marco fundamental no atual cenário econômico por estabelecer padrões globalmente consistentes para a verificação de relatórios de sustentabilidade. Sua importância reside em proporcionar maior credibilidade, comparabilidade e transparência às informações não financeiras divulgadas pelas organizações, atendendo à crescente demanda de investidores, reguladores e stakeholders por dados confiáveis sobre práticas ESG (Ambientais, Sociais e de Governança). A norma preenche uma lacuna significativa no mercado ao fornecer diretrizes claras para auditores e profissionais que realizam trabalhos de asseguração, elevando a qualidade das verificações e facilitando a tomada de decisão baseada em informações sustentáveis verificáveis.

Como a ISSA 5000 contribui para aumentar a confiabilidade das auditorias de sustentabilidade?

A ISSA 5000 aumenta a confiabilidade das auditorias de sustentabilidade através de diversos mecanismos: estabelece procedimentos padronizados e metodologias robustas para a verificação de informações não financeiras; define requisitos claros para a coleta e avaliação de evidências; exige a aplicação de ceticismo profissional e julgamento técnico; estabelece parâmetros para a avaliação de materialidade específica para questões de sustentabilidade; e determina critérios para a documentação adequada do trabalho realizado. Além disso, a norma estabelece requisitos específicos para a formação de equipes multidisciplinares com competências técnicas apropriadas para avaliar dados de sustentabilidade, garantindo assim que as auditorias sejam realizadas com o mesmo rigor técnico aplicado às demonstrações financeiras tradicionais.

Quais são os benefícios da ISSA 5000 destacados por Willie Botha durante o fórum?

Durante o fórum, Willie Botha destacou diversos benefícios da ISSA 5000, incluindo: a promoção de consistência global na verificação de relatórios de sustentabilidade; o aumento da credibilidade das informações ESG divulgadas; a melhoria da comparabilidade entre relatórios de diferentes empresas e setores; o fortalecimento da confiança dos investidores e stakeholders; a redução do risco de greenwashing através de verificações mais rigorosas; a adaptabilidade da norma para ser aplicada em diferentes estruturas regulatórias e jurisdições; e a capacidade de responder às necessidades emergentes do mercado e às exigências regulatórias em evolução. Botha também enfatizou como a ISSA 5000 foi projetada para funcionar em harmonia com outras normas internacionais, criando um ecossistema coerente para relatórios de sustentabilidade.

Que diretrizes éticas são essenciais para relatórios de sustentabilidade, segundo Ken Siong?

Segundo Ken Siong, as diretrizes éticas essenciais para relatórios de sustentabilidade incluem: integridade na preparação e apresentação de informações; objetividade e imparcialidade na avaliação de dados, evitando vieses; confidencialidade no tratamento de informações sensíveis; competência técnica e due care na execução dos trabalhos; transparência quanto às metodologias e limitações; independência dos auditores em relação às entidades auditadas; ceticismo profissional ao analisar as informações fornecidas; e compromisso com o interesse público, reconhecendo o impacto social das informações de sustentabilidade. Siong enfatizou que esses princípios éticos devem ser aplicados não apenas pelos auditores, mas por todos os envolvidos na cadeia de relatórios de sustentabilidade, desde a coleta de dados até a divulgação final.

Como os padrões internacionais ajudam a evitar práticas de greenwashing nos relatórios de sustentabilidade?

Os padrões internacionais combatem o greenwashing ao estabelecerem critérios objetivos para a verificação de informações de sustentabilidade, exigindo evidências concretas que suportem as afirmações das empresas. Eles impõem requisitos de materialidade que impedem organizações de focarem apenas em aspectos positivos enquanto omitem impactos negativos significativos. As normas também exigem consistência e comparabilidade na mensuração e divulgação, dificultando a manipulação seletiva de dados. Adicionalmente, os procedimentos de asseguração independente baseados nestes padrões introduzem uma verificação externa imparcial que identifica inconsistências, exageros ou omissões nas informações divulgadas. Por fim, a padronização internacional aumenta a transparência e facilita o escrutínio por parte de investidores, analistas e outras partes interessadas, elevando o custo reputacional do greenwashing.

O que diferencia o cenário de auditoria de sustentabilidade entre o Brasil e outros países, como os da União Europeia?

O cenário brasileiro de auditoria de sustentabilidade difere significativamente da União Europeia principalmente no aspecto regulatório. Enquanto a UE avança com a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) e os padrões ESRS, estabelecendo requisitos mandatórios e prazos definidos para asseguração de informações de sustentabilidade, o Brasil ainda opera predominantemente em regime voluntário. Há também diferenças na maturidade do mercado: a Europa possui um ecossistema mais desenvolvido de prestadores de serviços de asseguração, maior experiência acumulada e infraestrutura educacional mais robusta para formação de especialistas. Adicionalmente, o nível de pressão de investidores por informações verificadas independentemente é maior na Europa, enquanto no Brasil essa demanda está em fase de crescimento, impulsionada principalmente por empresas com exposição internacional ou listadas em bolsas estrangeiras.

Quais desafios os auditores brasileiros enfrentam na implementação dos padrões internacionais de sustentabilidade?

Os auditores brasileiros enfrentam diversos desafios na implementação dos padrões internacionais de sustentabilidade, incluindo: a necessidade de desenvolvimento rápido de competências técnicas multidisciplinares (ambientais, sociais, além das tradicionais contábeis); a escassez de profissionais especializados em temas ESG com formação em auditoria; a adaptação dos padrões internacionais às particularidades do contexto brasileiro; a construção de metodologias adequadas para verificação de dados não financeiros; os altos investimentos necessários em tecnologia e capacitação; a falta de sistemas robustos de coleta e gestão de dados ESG nas empresas auditadas; a ausência de benchmarks setoriais consolidados para comparabilidade; e a necessidade de estabelecer critérios de materialidade específicos para a realidade nacional. Soma-se a isso o desafio de acompanhar a evolução constante dos padrões internacionais enquanto o mercado local ainda está em fase de amadurecimento.

Como a IFRS Foundation está contribuindo para padrões globais em relatórios de sustentabilidade?

A IFRS Foundation está contribuindo decisivamente para os padrões globais em relatórios de sustentabilidade através da criação do International Sustainability Standards Board (ISSB), que desenvolve normas abrangentes de divulgação relacionadas à sustentabilidade. O ISSB já publicou suas primeiras normas – IFRS S1 (requisitos gerais) e IFRS S2 (divulgações relacionadas ao clima) – estabelecendo uma base global para relatórios de sustentabilidade comparáveis. A Fundação está promovendo a convergência internacional, trabalhando com outros órgãos reguladores como a GRI e a União Europeia para alinhar exigências e reduzir fragmentações. Adicionalmente, a IFRS Foundation está apoiando a implementação destas normas através de orientações práticas, materiais educacionais e programas de capacitação, especialmente voltados para mercados emergentes como o Brasil, facilitando assim a adoção global de um conjunto único de padrões de alta qualidade para informações de sustentabilidade.

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