O Poder dos Pequenos Negócios no Desenvolvimento Territorial Brasileiro
Os municípios brasileiros representam a espinha dorsal do desenvolvimento econômico nacional. Com mais de 5.500 unidades, são esses territórios que abrigam a força empreendedora capaz de transformar realidades locais e gerar oportunidades onde elas são mais necessárias. “A solução das questões econômicas está no município. Está neste contexto de fazer com que as pessoas que produzem possam vender para as prefeituras e órgãos públicos”, destacou Décio Lima, presidente do Sebrae, durante a abertura do evento Transformar Juntos, realizado em Brasília entre 23 e 25 de julho de 2025.
O encontro, que reuniu mais de 2,5 mil gestores públicos, agentes de desenvolvimento e representantes de prefeituras, colocou em evidência a importância da integração entre diversos atores para promover o desenvolvimento local sustentável. A proposta central foi clara: os pequenos negócios são fundamentais para a inclusão econômica e social da população brasileira.
Este conceito ganha ainda mais relevância quando observamos que mais de 90% das empresas no Brasil são de micro e pequeno porte. São esses empreendimentos que dinamizam as economias municipais, geram empregos e mantêm recursos circulando localmente. Por isso, qualquer estratégia de desenvolvimento territorial precisa necessariamente incluir políticas de apoio a esse segmento.
O evento Transformar Juntos estabeleceu um ambiente propício para o diálogo e a troca de experiências entre gestores municipais de todo o país. Com o tema “Sustentabilidade e Resiliência Climática”, a programação incluiu 70 atividades focadas em temas estratégicos como compras públicas, simplificação do ambiente de negócios e estímulo às economias portadoras de futuro.
A Plataforma Contrata + Brasil surgiu como uma das ferramentas mais promissoras apresentadas durante o evento. Este sistema, desenvolvido pelo governo federal, cadastra microempreendedores individuais (MEIs) para executarem pequenos serviços nas administrações públicas, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento local. Atualmente, mais de 700 órgãos públicos, incluindo prefeituras municipais, já estão cadastrados na plataforma, oferecendo oportunidades para profissionais como instaladores de ar-condicionado, eletricistas, pintores e encanadores.
O potencial transformador dessa iniciativa é imenso. Quando prefeituras priorizam a contratação de fornecedores locais, os recursos públicos permanecem na própria comunidade, gerando um efeito multiplicador na economia municipal. Para os MEIs, representa a oportunidade de crescer e se formalizar, contribuindo para a redução da informalidade e o aumento da arrecadação.
A ministra substituta da Secretaria Geral da Presidência da República, Kelli Mafort, enfatizou durante o evento que “o Sebrae estimula a cooperação e a participação social. E é dessa forma que transformamos a vida das pessoas”. Essa visão colaborativa é essencial para o sucesso de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento territorial.
Um setor que tem se beneficiado enormemente do apoio aos pequenos negócios é o turismo. Conforme destacou o ministro Celso Sabino, “no turismo, mais de 90% das empresas são pequenos negócios. Todo sucesso alcançado tem o braço e apoio do Sebrae Nacional”. Os resultados são expressivos: mais de 500 mil novos empregos apenas na atividade turística, demonstrando como o setor pode ser um vetor de crescimento econômico e inclusão social quando apoiado por políticas adequadas.
Outro aspecto fundamental discutido no Transformar Juntos foi a necessidade de incorporar a sustentabilidade e a resiliência climática nas estratégias de desenvolvimento municipal. Bruno Quick, diretor-técnico do Sebrae, ressaltou que “queremos mostrar um novo jeito de fazer desenvolvimento, que as pessoas já fazem nos nossos diferentes biomas, mas que precisam de mais apoio e mais recursos que possibilitem uma preservação maior da nossa natureza”.
Essa abordagem reconhece que os pequenos negócios podem ser agentes de transformação ambiental positiva quando incentivados a adotar práticas sustentáveis. Iniciativas de economia circular, energia renovável, turismo sustentável e produção orgânica representam oportunidades para empreendedores locais contribuírem para a preservação do meio ambiente enquanto geram renda e empregos.
A educação empreendedora também emergiu como um pilar importante para o desenvolvimento territorial. Programas formativos para gestores municipais e empreendedores locais são fundamentais para criar uma cultura empreendedora que valorize a inovação, a cooperação e a sustentabilidade. As redes colaborativas formadas durante o evento demonstram que o compartilhamento de conhecimentos e experiências entre diferentes municípios pode acelerar a implementação de políticas bem-sucedidas.
Para que as prefeituras possam efetivamente fomentar o empreendedorismo local, algumas recomendações práticas foram apresentadas durante o evento: simplificar processos de formalização de pequenos negócios; criar programas de compras governamentais voltados para micro e pequenas empresas locais; estabelecer fundos municipais de apoio ao empreendedorismo; oferecer capacitação técnica e gerencial para empreendedores; e implementar políticas de incentivo a setores estratégicos como turismo, economia criativa e tecnologia.
O evento Transformar Juntos demonstrou que a união entre municipalismo e empreendedorismo é um caminho promissor para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Como ressaltou Bruno Quick, trata-se da “união de duas forças no nosso país: o municipalismo e o empreendedorismo, que geram desenvolvimento, trabalho e riqueza”.
Os desafios são grandes, mas as oportunidades são ainda maiores. Os municípios brasileiros têm em suas mãos a possibilidade de transformar suas realidades a partir do apoio aos pequenos negócios, criando economias locais mais dinâmicas, inclusivas e resilientes. O sucesso dessa estratégia depende da capacidade de articulação entre diferentes atores – poder público, empreendedores, instituições de apoio e comunidade – em torno de uma visão compartilhada de desenvolvimento territorial sustentável.
Referências: