Preparação para o Futuro: A Transformação da Formação Contábil nas Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil

O futuro da contabilidade no Brasil: formando profissionais para a era digital nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste

Em um cenário de profundas transformações na profissão contábil, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de Ciências Contábeis estão redesenhando a formação dos profissionais em todo o Brasil. Durante o 3º Conexão Contábil Nacional, especialistas debateram como preparar estudantes para os desafios que já estão batendo à porta dos escritórios e departamentos contábeis em diversas regiões do país, especialmente no Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

Essas regiões, com suas particularidades econômicas e sociais, enfrentam tanto desafios específicos quanto oportunidades únicas para o desenvolvimento da profissão contábil. A implementação das novas DCNs representa um momento crucial para alinhar a formação acadêmica às necessidades do mercado local, que cada vez mais demanda profissionais tecnologicamente capacitados e estrategicamente preparados.

O Sistema CFC/CRCs tem participado ativamente desse processo desde a criação das diretrizes, buscando estabelecer um padrão de qualidade nacional que respeite as características regionais. No Ceará, Tocantins e Distrito Federal, por exemplo, instituições de ensino já começam a adaptar seus currículos para incorporar novas competências e habilidades exigidas pelo mercado.

A transformação tecnológica da contabilidade brasileira tem avançado em ritmos diferentes conforme a região. Em Brasília, polo administrativo e sede de grandes organizações governamentais, a digitalização dos processos contábeis já é uma realidade consolidada. Já em estados como Tocantins e regiões interioranas do Ceará, esse processo ocorre de forma mais gradual, mas não menos importante.

De acordo com especialistas que participaram do evento, os estudantes de ciências contábeis precisam desenvolver não apenas conhecimentos técnicos, mas principalmente quatro competências fundamentais: pensamento crítico para análise de dados complexos; adaptabilidade para acompanhar as constantes mudanças regulatórias e tecnológicas; domínio digital para utilizar ferramentas de automação e análise; e ética profissional robusta para lidar com informações sensíveis de forma responsável.

A vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do CRCCE, Welynádia Rodrigues Pereira, destacou a importância da ética ao lidar com dados sensíveis: “É fundamental trabalhar, na formação dos profissionais, o uso da tecnologia da informação com liberdade e responsabilidade”. Esta preocupação é particularmente relevante em um momento em que escritórios contábeis do Nordeste têm aumentado significativamente o volume de dados processados digitalmente.

A Inteligência Artificial tem sido outro tema central nas discussões sobre o futuro da profissão. Lidiane dos Santos Silva, presidente da Academia Tocantinense de Ciências Contábeis, foi enfática ao afirmar que “a IA não rouba os empregos, e sim as funções. Essa tecnologia não veio para eliminar o contador, e sim eliminar tarefas repetitivas e abrir espaço para que o profissional aja de forma estratégica, analítica e construtiva”.

No contexto das regiões Norte e Nordeste, onde muitas empresas ainda estão em processo de digitalização, essa transformação representa uma oportunidade para contadores se posicionarem como consultores estratégicos. Em estados como Tocantins, por exemplo, o contador que domina ferramentas de IA pode oferecer insights valiosos para pequenos e médios empreendedores que buscam otimizar suas operações.

A integração entre teoria e prática tem sido apontada como um dos principais desafios na formação contábil. As práticas extensionistas, previstas nas novas DCNs, vêm sendo implementadas com resultados promissores, principalmente no CRCCE e na Academia Tocantinense de Ciências Contábeis. Estas iniciativas permitem que os estudantes validem seus conhecimentos teóricos em situações reais do mercado, preparando-os melhor para os desafios profissionais.

Para as Instituições de Ensino Superior (IES) das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, alguns desafios específicos precisam ser superados, como a necessidade de infraestrutura digital adequada, a implementação de certificações intermediárias que agreguem valor ao currículo dos estudantes durante sua formação, e o estabelecimento de parcerias locais com empresas e organizações que possam oferecer oportunidades de estágio e aprendizado prático.

O vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do CFC, José Donizete Valentina, complementou o debate ressaltando que “o que garante o nosso futuro é o nosso valor. Só sobreviverá aquele que tem valor e é indispensável”. Esta percepção reflete a necessidade de os profissionais contábeis, especialmente nas regiões com menor concentração de grandes empresas, desenvolverem habilidades que os tornem verdadeiros parceiros estratégicos dos negócios.

O Sistema CFC/CRCs oferece diversos recursos para apoiar o desenvolvimento profissional contínuo dos contadores em todas as regiões do país. Entre estes recursos, destacam-se programas de educação continuada, eventos técnicos regionais, publicações especializadas e iniciativas de capacitação em novas tecnologias. No Distrito Federal, por exemplo, o CFC mantém uma estrutura robusta de apoio ao desenvolvimento profissional, com programas que podem ser acessados por contadores de todo o Brasil.

As perspectivas para os estudantes de contabilidade no Ceará, Tocantins e Distrito Federal são promissoras, desde que haja um alinhamento entre sua formação e as demandas do mercado local. As oportunidades incluem a atuação em setores em expansão nestas regiões, como o agronegócio, comércio eletrônico e serviços públicos, além da possibilidade de oferecer consultoria especializada para empresas em processo de transformação digital.

Conforme apontado pela VP Welynádia, que atua como educadora, “o maior desafio dentro das salas de aula torna-se também um compromisso. Com as práticas extensionistas, as matrizes curriculares, os eixos de ensino, as certificações intermediárias, pois todo viés teórico é relevante quando temos a validação desse viés do mercado e da prática”. Este compromisso reflete a necessidade de uma formação contábil que dialogue constantemente com as realidades regionais e as demandas específicas do mercado de trabalho local.

Em suma, o futuro da contabilidade nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil está intrinsecamente ligado à capacidade das instituições de ensino e dos próprios estudantes de abraçarem a transformação digital, desenvolverem competências multidisciplinares e estabelecerem uma conexão sólida entre a teoria acadêmica e a prática profissional. Somente assim será possível formar contadores que não apenas sobrevivam às mudanças tecnológicas, mas que se tornem agentes de transformação em suas regiões.

Referências:

  1. Conselho Federal de Contabilidade. Conexão Contábil Nacional: diálogo sobre a preparação dos estudantes de Ciências Contábeis para o mercado aborda a IA e outras realidades da profissão. https://cfc.org.br/noticias/conexao-contabil-nacional-dialogo-sobre-a-preparacao-dos-estudantes-de-ciencias-contabeis-para-o-mercado-aborda-a-ia-e-outras-realidades-da-profissao/

  2. Omie. Inteligência artificial e a área contábil: o que esperar? https://www.omie.com.br/blog/inteligencia-artificial-e-a-area-contabil-o-que-esperar/

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