A segurança em trilhas vulcânicas: riscos e prevenção para aventureiros no Sudeste Asiático

O trágico acidente envolvendo a brasileira Juliana Marins no Monte Rinjani, na Indonésia, reacendeu discussões importantes sobre a segurança em trilhas vulcânicas no Sudeste Asiático. Esta região, que atrai milhares de turistas anualmente em busca de paisagens deslumbrantes e experiências únicas, esconde perigos que frequentemente são subestimados por aventureiros desavisados.

As estatísticas mostram um aumento preocupante de incidentes em trilhas vulcânicas na região. Segundo dados recentes, aproximadamente 15% dos turistas que se aventuram em montanhas vulcânicas do Sudeste Asiático enfrentam situações de risco, desde lesões leves até acidentes fatais. Em 2024, foram registrados mais de 200 resgates em áreas vulcânicas na Indonésia, Filipinas e Malásia, muitos envolvendo turistas estrangeiros.

O Monte Rinjani, especificamente, representa um dos destinos mais desafiadores da região. Com seus impressionantes 3.726 metros de altura, este vulcão ativo na ilha de Lombok atrai visitantes pela beleza de sua cratera que abriga o lago Segara Anak. Contudo, suas encostas íngremes, terreno instável composto por rochas vulcânicas soltas e trilhas estreitas com desníveis abruptos criam um ambiente de alto risco. A própria topografia da montanha, com penhascos de centenas de metros e cânions profundos, transforma qualquer escorregão em uma potencial tragédia.

O microclima da região adiciona outro fator complicador. Neblina densa pode surgir repentinamente, reduzindo a visibilidade a poucos metros em questão de minutos. As chuvas torrenciais, comuns na estação úmida, transformam as trilhas em superfícies extremamente escorregadias e podem provocar deslizamentos de terra. Essas condições são ainda mais perigosas para turistas que tentam completar a trilha sozinhos ou fora das rotas estabelecidas.

Antes de partir para uma aventura em áreas vulcânicas, é fundamental seguir protocolos de segurança rigorosos. O primeiro e mais importante é nunca fazer trilhas sozinho. Grupos oferecem maior segurança e aumentam as chances de socorro em caso de emergência. Registrar-se oficialmente com as autoridades locais do parque também é essencial, permitindo que equipes de resgate saibam quem está na montanha e por quanto tempo.

A preparação adequada inclui pesquisar a fundo o percurso, consultando relatos recentes de outros aventureiros e sites especializados em trilhas. Obter informações meteorológicas atualizadas e, se possível, adiar a expedição em caso de previsão de condições adversas pode fazer a diferença entre uma experiência memorável e uma tragédia.

O equipamento correto é outro aspecto vital para a segurança em terrenos vulcânicos. Botas de trilha com boa aderência são indispensáveis para lidar com terrenos irregulares e escorregadios. Bastões de caminhada proporcionam estabilidade adicional e reduzem o impacto nos joelhos durante descidas íngremes. Uma lanterna potente com baterias extras é essencial, considerando que muitas trilhas começam antes do amanhecer para permitir chegar ao cume ao nascer do sol.

Outros itens fundamentais incluem um kit de primeiros socorros completo, apito para sinalização em emergências, mapa impresso (não confie apenas em dispositivos eletrônicos), roupas impermeáveis e de camadas (as temperaturas podem variar drasticamente entre dia e noite), protetor solar (a radiação é intensa em grandes altitudes) e alimentos energéticos com água suficiente para toda a jornada, além de um sistema de purificação.

As condições climáticas na Indonésia representam um desafio significativo para operações de resgate. Durante a estação chuvosa, entre novembro e março, tempestades intensas podem impossibilitar o uso de helicópteros por dias. A umidade elevada afeta equipamentos eletrônicos, incluindo dispositivos de comunicação, tornando ainda mais complexa a coordenação entre equipes de busca.

O caso da brasileira Juliana Marins exemplifica esses desafios. A neblina espessa e chuvas persistentes dificultaram significativamente os esforços de resgate, mesmo após sua localização por drones. A instabilidade do terreno onde ela caiu complicou ainda mais o acesso das equipes de socorro, que precisaram enfrentar riscos consideráveis durante as tentativas de aproximação.

Nesse contexto, os guias locais desempenham um papel fundamental na prevenção de acidentes. Familiarizados com a topografia, condições climáticas e rotas alternativas, eles podem identificar sinais de perigo que passariam despercebidos para turistas. Além disso, conhecem abrigos naturais para emergências e mantêm comunicação com outros guias na montanha, criando uma rede informal de segurança.

A contratação de guias certificados, apesar de representar um custo adicional, é um investimento em segurança. Eles não apenas orientam sobre o caminho mais seguro, mas também podem avaliar a condição física dos turistas e sugerir rotas alternativas quando necessário. Na Indonésia, guias qualificados passam por treinamentos regulares em técnicas de primeiros socorros e resgate em terrenos acidentados.

Quando acidentes ocorrem, as operações de resgate em áreas remotas enfrentam desafios logísticos enormes. No Monte Rinjani, por exemplo, equipes precisam transportar equipamentos pesados através de trilhas íngremes, frequentemente em condições climáticas adversas. A evacuação de vítimas geralmente requer macas especiais e sistemas de cordas, além de coordenação entre diferentes equipes posicionadas estrategicamente na montanha.

A comunicação também representa um obstáculo significativo. Muitas áreas vulcânicas têm cobertura de celular limitada ou inexistente, tornando necessário o uso de rádios de alta frequência ou telefones satelitais para coordenação. Em casos como o de Juliana Marins, a localização exata da vítima pode demorar dias, enquanto equipes percorrem diferentes setores da montanha.

Analisando o histórico de acidentes no Monte Rinjani, padrões preocupantes emergem. Muitos incidentes ocorrem durante descidas, quando os aventureiros já estão fisicamente exaustos e mais propensos a escorregões. Outros acontecem quando turistas tentam trilhas não oficiais em busca de melhores fotografias ou experiências “autênticas”. Em 2019, um turista malaio faleceu após cair em um penhasco enquanto tentava registrar o nascer do sol. Em 2022, um grupo de portugueses precisou ser resgatado após se perder em meio à neblina densa, tendo que passar uma noite exposto a temperaturas próximas de zero.

Para brasileiros que viajam sozinhos ao exterior, algumas recomendações específicas podem aumentar significativamente a segurança:

  1. Informe a Embaixada Brasileira sobre seus planos de viagem, especialmente para áreas remotas.
  2. Mantenha cópias digitais e físicas de documentos importantes, incluindo seguro viagem com cobertura para atividades de aventura e resgate.
  3. Estabeleça um sistema de check-in regular com familiares ou amigos, definindo claramente quando acionar autoridades em caso de falta de contato.
  4. Aprenda algumas frases básicas no idioma local, particularmente relacionadas a emergências.
  5. Pesquise previamente sobre o sistema de saúde local e hospitais próximos às áreas que pretende visitar.

É importante compreender também as questões legais envolvidas em atividades de aventura internacional. Em muitos parques naturais da Indonésia e outros países do Sudeste Asiático, os visitantes assinam termos de responsabilidade que podem limitar a obrigação das autoridades em caso de acidentes. Isso não significa que não haverá resgate, mas pode impactar o tipo de assistência disponível e possíveis compensações.

Além disso, alguns parques exigem seguros específicos para atividades de alta montanha, embora a fiscalização nem sempre seja rigorosa. Turistas frequentemente ignoram essas exigências, descobrindo tarde demais que seu seguro viagem regular pode não cobrir atividades consideradas de “alto risco”.

A tragédia envolvendo Juliana Marins no Monte Rinjani deve servir como um alerta para todos os aventureiros. As montanhas vulcânicas do Sudeste Asiático oferecem experiências extraordinárias, mas exigem respeito, preparação adequada e conscientização sobre os riscos envolvidos. A diferença entre uma aventura memorável e uma tragédia muitas vezes está na preparação, equipamentos adequados e decisões prudentes diante de sinais de perigo.

Referências:

https://www.mundorh.com.br/brasileira-identificada-na-indonesia-morreu-apos-cair-em-trilha-de-vulcao-confirma-familia/
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/brasileira-identificada-na-indonesia-morreu-apos-cair-em-trilha-de-vulcao-confirma-familia/
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/06/24/brasileira-indonesia-vulcao-morte.htm
https://www.thetimes.co.uk/article/brazilian-tourist-active-volcano-mount-rinjani-cgtt8vmg0