O Boom do Turismo Pet-Friendly: Como Socorro (SP) se Tornou Referência Nacional
Socorro, cidade do interior paulista conhecida por suas atrações de ecoturismo e esportes de aventura, agora ganha destaque em um segmento inovador: o turismo pet-friendly. O município, localizado a aproximadamente 130 km da capital, tem se reinventado para atender uma crescente demanda de viajantes que não abrem mão de levar seus animais de estimação em suas jornadas.
Essa tendência responde a uma dor muito comum entre tutores: a dificuldade de encontrar locais adequados para viajar com pets. Segundo pesquisas recentes, cerca de 65% dos tutores consideram seus animais como membros da família e sentem-se desconfortáveis ao deixá-los em hotéis para animais ou com amigos durante as férias. Em Socorro, essa necessidade foi transformada em uma próspera oportunidade de negócio.
O exemplo mais emblemático dessa transformação é a Villa Ayê, pousada fundada pela empreendedora Ana Luiza Russo, que inverteu a lógica tradicional do mercado hoteleiro. “Somos uma pousada 100% pet friendly que aceita humanos. Mas tratamos bem os humanos também, afinal, são eles que pagam a conta”, brinca a empresária, resumindo a filosofia que norteia seu negócio.
O empreendimento nasceu a partir da adaptação de uma chácara familiar, estrategicamente posicionada em um dos principais corredores turísticos da cidade. Com um investimento inicial de R$ 1,5 milhão, Ana Luiza transformou o espaço em um verdadeiro refúgio para animais e seus tutores, criando uma infraestrutura completamente voltada para o bem-estar dos pets.
O resultado dessa aposta foi surpreendente: desde a mudança de foco, o faturamento da pousada cresceu mais de 980%. Em 2024, a receita anual atingiu a impressionante marca de R$ 1,8 milhão, consolidando o negócio como referência nacional no segmento. Durante as férias de julho, período de alta temporada, a pousada opera com 100% de ocupação nos finais de semana, com estimativa de faturamento mensal de R$ 180 mil.
A Villa Ayê recebe animais de todos os portes e espécies. Embora 95% dos hóspedes sejam cães, 3% gatos e 2% outras espécies, já passaram pelo local tartarugas, peixes, calopsitas, papagaios, porquinhos-da-índia, iguanas e até hamsters. “Não fazemos distinção. O que pedimos é que os animais sejam sociáveis com outros pets e humanos”, explica Ana Luiza.
O diferencial do empreendimento está nos serviços exclusivos oferecidos aos animais. A estrutura inclui piscina exclusiva para pets, área de lazer, serviços de massagem especializada, alimentação personalizada e até café da manhã servido na bandeja – tudo pensado para proporcionar uma experiência memorável aos bichinhos.
O sucesso da Villa Ayê não é um caso isolado, mas parte de um movimento mais amplo que envolve toda a cidade. Desde 2021, Socorro desenvolve o programa “Socorro Destino Pet Friendly”, integrando diversas atrações turísticas que passaram a aceitar animais de estimação, como tirolesas e passeios de quadriciclo. Essa sinergia entre os empreendimentos locais tem potencializado o fluxo turístico da região e fortalecido a economia local.
O impacto positivo desse posicionamento estratégico motivou Ana Luiza a expandir seu negócio através do modelo de franquias. A primeira unidade será inaugurada em Campos do Jordão (SP), outro importante destino turístico paulista. O investimento para novos franqueados varia entre R$ 400 mil e R$ 1,5 milhão, dependendo da estrutura disponível, com expectativa de faturamento anual entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões por unidade e lucratividade média de 30%.
“Escolhi o lugar certo para investir. O turismo pet friendly veio para ficar”, afirma Ana Luiza, que deixou o mundo corporativo para se dedicar ao empreendimento. Sua visão está alinhada com as tendências nacionais do mercado pet, que não para de crescer no Brasil.
De acordo com dados da CNN Brasil, o setor deve movimentar impressionantes R$ 68,6 bilhões em 2023, consolidando o Brasil como o sétimo país em população total de pets e o segundo em faturamento global do setor. Esse crescimento é impulsionado por diversas tendências, incluindo o fenômeno dos pet influencers, que segundo a Forbes Brasil, movimentam cerca de R$ 47,9 bilhões no país.
O sucesso de empreendimentos como a Villa Ayê tem inspirado outros estabelecimentos a se adaptarem para o público pet-friendly. Segundo o Estadão, hotéis e shoppings em todo o país estão investindo em estrutura, serviços e treinamento de funcionários para atender esse nicho crescente de mercado. Entre as adaptações mais comuns estão a criação de áreas específicas para pets, cardápios especiais, kits de boas-vindas e até mesmo atrações voltadas exclusivamente para os animais.
Para empreendedores interessados em ingressar nesse mercado, especialistas recomendam algumas práticas essenciais: investir em treinamento adequado da equipe, adaptar a infraestrutura para garantir a segurança e o conforto dos animais, criar políticas claras sobre o comportamento esperado dos pets e seus tutores, e buscar diferenciação através de serviços exclusivos.
O caso de Socorro demonstra como uma cidade inteira pode se beneficiar ao abraçar o conceito pet-friendly de forma abrangente. Ao integrar diferentes estabelecimentos e atrações em uma proposta coesa, o município não apenas atende a uma demanda crescente, mas também se posiciona como referência em um segmento com amplo potencial de crescimento.
Para empresários e gestores do setor de hospitalidade e turismo, o exemplo da Villa Ayê e da cidade de Socorro oferece valiosas lições sobre como identificar oportunidades em nichos específicos e transformá-las em negócios rentáveis e sustentáveis. Em tempos de busca por experiências autênticas e personalizadas, compreender e atender às necessidades dos tutores de pets pode ser um caminho promissor para empreendedores visionários.
Referências: