A divulgação da Fundação IFRS de exemplos para relatar incertezas relacionadas ao clima em demonstrações financeiras representa um marco significativo para a transparência corporativa. Este movimento demonstra como a governança ambiental está cada vez mais entrelaçada com as práticas contábeis tradicionais, criando um novo paradigma para relatórios financeiros no Brasil e no mundo.
A publicação, anunciada em julho de 2025, traz orientações práticas para que empresas melhorem suas divulgações sobre incertezas nas demonstrações financeiras, especialmente aquelas relacionadas às mudanças climáticas. Esta iniciativa surge em um momento crucial, quando organizações enfrentam crescente pressão de investidores, reguladores e consumidores por maior transparência quanto aos riscos e impactos climáticos.
Os exemplos desenvolvidos pelo International Accounting Standards Board (IASB) respondem diretamente ao feedback das partes interessadas sobre a insuficiência das informações relacionadas às incertezas climáticas e às inconsistências nas divulgações corporativas. Embora focados em questões climáticas, esses exemplos oferecem orientações aplicáveis a diversos tipos de incertezas que as empresas enfrentam.
A aplicação das Normas Contábeis IFRS para melhorar a divulgação de incertezas segue princípios fundamentais de reconhecimento, mensuração e evidenciação. As diretrizes abordam aspectos como a avaliação de ativos de longa duração potencialmente afetados por transições energéticas, a quantificação de passivos ambientais futuros e a divulgação de premissas críticas sobre impactos climáticos nos negócios.
Um aspecto inovador desta publicação é a colaboração entre o IASB e o International Sustainability Standards Board (ISSB), garantindo que os exemplos funcionem harmoniosamente com os requisitos de divulgação de sustentabilidade do ISSB. Esta sinergia reflete uma tendência crescente de integração entre informações financeiras tradicionais e dados de sustentabilidade, particularmente relevante com a entrada em vigor das normas IFRS S1 e S2 em 2024.
As normas IFRS S1 e S2 estabelecem um padrão global para relatórios de sustentabilidade, com a S1 focando em requisitos gerais para divulgações relacionadas à sustentabilidade e a S2 concentrando-se em divulgações específicas relacionadas ao clima. Estas normas complementam os exemplos recém-publicados, criando um ecossistema robusto para relatórios corporativos mais abrangentes.
A publicação antecipada desses exemplos, antes da versão final prevista para outubro de 2025, oferece às empresas uma valiosa oportunidade de preparação. Esta visibilidade antecipada permite que organizações ajustem seus processos internos, treinem suas equipes e adaptem seus sistemas para implementar as novas orientações de forma mais eficaz.
Para empresas brasileiras, essas diretrizes representam tanto um desafio quanto uma oportunidade. Organizações com operações em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras grandes capitais precisarão adaptar suas práticas contábeis e de governança para atender aos novos padrões. Setores como energia, mineração, agricultura e manufatura, predominantes na economia brasileira, enfrentarão escrutínio particular devido à sua exposição a riscos climáticos.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) provavelmente incorporarão essas diretrizes em suas próprias recomendações e regulamentações, ampliando seu impacto no mercado brasileiro. Empresas listadas na B3 e multinacionais com operações no Brasil deverão estar na vanguarda dessa adaptação.
Além dos aspectos regulatórios, a implementação dessas orientações traz benefícios tangíveis para as empresas. Maior transparência pode melhorar o acesso a capital, reduzir o custo de financiamento e fortalecer a confiança dos investidores. Para contadores e auditores brasileiros, essa evolução exige desenvolvimento profissional contínuo e familiaridade com as interseções entre contabilidade financeira e sustentabilidade.
As empresas brasileiras que adotarem proativamente essas orientações não apenas cumprirão requisitos regulatórios emergentes, mas também se posicionarão como líderes em transparência e governança, um diferencial competitivo crescentemente valorizado no mercado global.
Referências:
https://revistaonline.unisc.br/seer/index.php/contabilidade/article/view/18185/9851