O Brasil na Vanguarda da Inovação: Como os Venture Builders Estão Transformando o Ecossistema de Startups
O mercado de Venture Capital no Brasil tem apresentado um amadurecimento significativo nos últimos anos. De acordo com dados recentes, apenas em 2024, mais de R$ 11 bilhões foram investidos em startups brasileiras, com São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte liderando como os principais polos de inovação. Apesar da retração global de investimentos, o ecossistema brasileiro tem mostrado resiliência, especialmente em setores como fintechs, healthtechs e soluções de tecnologia para o agronegócio.
Neste cenário em evolução, um modelo de investimento tem ganhado destaque por sua abordagem diferenciada: o Venture Builder. Diferentemente do Venture Capital tradicional, que se concentra primordialmente em aportar capital, os Venture Builders assumem um papel muito mais ativo na criação e desenvolvimento de startups, tornando-se verdadeiros co-fundadores dos empreendimentos.
Mas afinal, o que é um Venture Builder? Trata-se de uma organização especializada em construir empresas do zero ou em estágios iniciais, fornecendo não apenas capital financeiro, mas também recursos humanos, expertise operacional e infraestrutura. O modelo surgiu como resposta às limitações do Venture Capital tradicional, oferecendo uma proposta de valor única para o ecossistema brasileiro: reduzir significativamente os riscos de execução, que são particularmente desafiadores em um mercado emergente como o nosso.
Enquanto um fundo de Venture Capital típico investe em um portfólio diversificado de startups, apostando que algumas compensarão o fracasso da maioria, os Venture Builders concentram-se em poucos projetos de alta qualidade, dedicando-se intensamente a cada um deles. Este modelo se adapta bem à realidade brasileira, onde o acesso a talentos especializados, conhecimento de gestão e redes de contatos pode ser tão ou mais valioso que o próprio capital.
Ao comparar os modelos de VC e Venture Builder no contexto nacional, percebemos diferenças fundamentais que podem beneficiar os empreendedores brasileiros. O Venture Capital tradicional oferece autonomia operacional, menor diluição de participação e uma ampla rede de contatos, mas frequentemente limita-se ao aporte financeiro e à governança estratégica. Por outro lado, os Venture Builders brasileiros proporcionam suporte operacional intensivo, equipes experientes e validação mais rápida das hipóteses de negócio, embora exijam maior participação acionária e possam limitar a autonomia dos fundadores.
A execução hands-on é justamente onde os Venture Builders se destacam no Brasil. Enquanto muitos investidores locais se limitam a monitorar métricas e participar de conselhos, os Builders “arregaçam as mangas” e participam ativamente da construção do negócio. Em regiões como São Paulo e Florianópolis, onde os ecossistemas de inovação estão mais desenvolvidos, os VBs têm demonstrado capacidade de elevar significativamente as taxas de sucesso das startups ao oferecer times especializados em desenvolvimento de produto, marketing, vendas e finanças.
Este envolvimento direto cria um alinhamento de interesses muito mais profundo entre investidores e empreendedores. A governança em startups apoiadas por Venture Builders no Brasil tende a ser mais colaborativa, com uma parceria efetiva que vai além da relação tradicional investidor-investido. Em mercados como o brasileiro, onde os desafios regulatórios e de mercado podem ser complexos, esta parceria estratégica torna-se particularmente valiosa, criando um ambiente de confiança mútua e objetivos compartilhados.
Para implementar um Venture Builder eficaz no Brasil, é essencial seguir alguns passos fundamentais. Primeiramente, a definição clara de teses de investimento alinhadas às oportunidades locais e regionais. Em seguida, a formação de um time multidisciplinar com experiência no mercado brasileiro e conexões estratégicas. A estruturação de processos de validação adaptados à realidade nacional, um modelo financeiro sustentável e mecanismos de governança transparentes completam os elementos essenciais para o sucesso.
O Brasil já conta com casos notáveis de sucesso neste modelo. Em São Paulo, a Cubo Itaú tem contribuído para a construção de startups inovadoras, enquanto no Rio de Janeiro, a Gávea Venture Builder tem se destacado no desenvolvimento de empresas de tecnologia com forte componente de inovação. Em Florianópolis, o ecossistema local é potencializado pela atuação de Venture Builders especializados em deeptech, aproveitando o talento técnico da região.
Os aspectos regulatórios e tributários são particularmente relevantes para os Venture Builders no Brasil. Questões como a estruturação societária, contratos de vesting adaptados à legislação trabalhista brasileira, incentivos fiscais para inovação e proteção de propriedade intelectual precisam ser cuidadosamente considerados. Muitos Venture Builders brasileiros têm optado por estruturas holding que facilitam a gestão de múltiplos investimentos e otimizam a carga tributária, sempre em conformidade com a complexa legislação nacional.
Para avaliar o desempenho dos Venture Builders no contexto brasileiro, métricas específicas têm sido adotadas. Além dos indicadores tradicionais como ROI e múltiplos de saída, KPIs como tempo de validação do produto, eficiência na aquisição de clientes, retenção e velocidade de crescimento em diferentes regiões do país são fundamentais. A capacidade de navegar pelo cenário regulatório brasileiro e construir parcerias estratégicas também são considerados indicadores importantes de sucesso.
O futuro do ecossistema de inovação brasileiro parece cada vez mais conectado à ascensão dos Venture Builders. À medida que o mercado amadurece, a tendência é de especialização vertical, com VBs focados em setores específicos como agronegócio, saúde e educação, áreas com grande potencial de transformação no Brasil. A expansão para além do eixo Rio-São Paulo, alcançando ecossistemas emergentes no Nordeste e Centro-Oeste, também é uma tendência clara.
A hibridização dos modelos de investimento, combinando as melhores práticas de Venture Capital e Venture Building, tem se mostrado uma evolução natural para o mercado brasileiro. Esta abordagem permite adaptar o nível de suporte às necessidades específicas de cada startup e região, maximizando as chances de sucesso em um país continental como o Brasil.
Em um mercado onde a taxa de mortalidade de startups continua alta, o modelo de Venture Builder oferece uma alternativa promissora para empreendedores brasileiros. Mais do que simplesmente investir, estes novos atores do ecossistema estão efetivamente construindo o futuro da inovação no Brasil, combinando capital, expertise e execução para transformar boas ideias em empresas de sucesso.
Referências:
https://startupi.com.br/investir-construir-falso-dilema-futuro-startups/
https://online.hbs.edu/blog/post/venture-capital-vs-venture-builder
https://news.crunchbase.com/venture/venture-builders-rise-proceed-caution/
https://www.distrito.me/artigos/venture-builders/